segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bon Jovi e Men in Black - Bon Jovi and Men in Black


A paternidade, além de acentuar a minha calvície e as minhas olheiras de maneira incorrigível, tem me causado outro grave efeito colateral: uma total inaptidão para ir à balada.

Claro que contribuem também o avanço da idade – infelizmente acompanhado pelo avanço da circunferência abdominal – e o leve aroma de naftalina das minhas roupas de sair, que fariam os seguidores de Fiuk nausearem, não tanto pelo cheiro, mas pelo fato da minha calça não estar colada à vácuo nas minhas pernas e por eu manter o abominável hábito de usá-la na altura da cintura.

Modas e estilo à parte, o fato é que sair de casa após às 22 horas tem se tornado progressivamente constrangedor. E apesar de estar interessadíssimo no Globo Repórter e na maciez quentinha do meu sofá, na última sexta-feira resolvi me arriscar e prestigiar o aniversário da minha irmã caçula num pub da cidade.

Por aniversário da irmã caçula entendam: uma lista de convidados extensa, quase 100% mais nova e mais bela que você, e que ainda é capaz de dançar sem parecer ter sido expelido de uma máquina do tempo, vindo de 1994, ou antes.

Já na fila da entrada sinto os primeiros efeitos do meu, digamos assim, perfil inadequado. A minha esposa, que ainda está longe de perder o tônus da cútis e a etiqueta noturna, se aproxima da antipática moça na entrada e naturalmente responde nome, telefone, CPF, endereço, religião, cor favorita e etc. Ela pega seu cartão de consumação e entra sorridente quando o segurança – ou seria um agente saído do filme Men in Black? – abre a porta do recinto.

Eu, prudentemente, sigo logo atrás, imitando cada gesto para ninguém notar que não saio há 8 meses (tá bom, tá bom, 8 anos). Mal começo a olhar para o interior do bar quando sinto uma mão no ombro me puxando para trás. Era o agente Men in Black, com seu olho clínico para ET’s, acertadamente impedindo que um espécime estranho como eu frequentasse aquele lugar.

Sentindo os prováveis cinco quilos de mão no ombro, obedeço, com meu rabo de ET entre as pernas, ao convite seco de me retirar e passar pelo interrogatório de nome, telefone, CPF, planeta, hábitos alimentares e etc, antes de entrar novamente.

Ainda levemente trêmulo, dirijo-me ao balcão e peço uma cerveja. Álcool é a saída mais fácil para os peixes fora d`água. Rapidamente você está mais relaxado, mais à vontade e percebendo que não é tão diferente assim. Alguns desavisados chegam até a puxar papo com a loira monumental que está tomando um drink rosa, de canudinho, ao seu lado no bar. Eu não. Tenho meus pés no chão. E minha esposa a passos de distância.

Tomo uma, tomo duas (o copo era grande) e logo já estou me sentindo em casa. A língua levemente dormente e o olho já querendo baixar, mas o lugar estava escuro e barulhento, ninguém iria notar. E quando a banda começa a tocar Livin` on a Prayer, do Bon Jovi, constatei: conheço a música, logo, posso dançar.

Ledo engano. Até porque é impossível se mexer no espaço de dez centímetros quadrados que consegui com muito esforço abrir na pista de dança. Estava me sentindo no meio de um monte de sardinhas enlatadas ainda vivas. Apesar do apertume, todos estavam felizes, sorridentes, inclusive minha mulher, que estava logo atrás de mim, tomando espumante de canudinho e gargalhando com uma amiga.

Enquanto o pessoal abria a boca para cantar o refrão aos berros, eu só abria a minha para bocejar. E pensava se o Globo Repórter já tinha acabado. E se meu filho estava bem na casa da minha mãe. Nada contra o lugar, ou à música, ou aos convidados. Estavam todos ótimos, juro. O problema era eu.

É que com a paternidade nasceu também um prazer indescritível de ficar no meu canto, com a minha família. É algo mais forte do que a gente, quem já tem filho entende o que eu estou querendo dizer. E lugares como aquele, que antes eram a tradução literal da diversão, se transformam apenas em uma memória saudosa de um tempo que já se foi.

Quando cheguei na casa de minha mãe e ouvi o barulho ronco e morno da respiração do Antonio no berço, senti uma paz. Fiquei uns dez minutos na porta, hipnotizado por aquele pingo de gente. E apesar de já ser quase 3 da manhã, no tempo em que estava ali, não bocejei nenhuma vez.


Bon Jovi and Men in Black

Parenthood, besides enhancing my baldness and the dark circles around my eyes incorrigibly, has brought me another serious side effect: a complete inaptitude for the night outs.

Of course the advancement of the age – unfortunately followed by the enlargement of my waist circumference – and a slight odor of moth balls on my trendy clothes, which would make Fiuk’s fans nauseate, not so much for the smell, but by the fact that my paints aren’t vacuum packed to my tights and because I have the nasty habit of wearing my paints in my waist line.

Fashions and style on the side, the fact is leaving the house after 10 o’clock p.m. has become progressively embarrassing. Though I’m super interested in Globo Repórter and in the warm softness of couch, last Friday I decided to take a risk and go to my little sister’s birthday in a pub downtown.

By my little sister’s birthday I mean an extensive guest list, almost 100% younger and more attractive than you are, and that still can dance without appearing to having been dislodged by a time machine, coming from 1994 or before.

In the entrance line I already eel the first effects from my, let’s say, inadequate profile. My wife, who is still far from losing the tone of the skin and the night etiquette, approaches the obnoxious door-host lady and naturally informs her name, telephone, id number, address, religion, favorite color and so on. She grabs her consumption card and enters smilingly while the bouncer – or an agent from the movie Men in Black maybe? – opened the door for her.

I, wisely, follow behind, imitating every gesture so nobody notices I haven’t been out for 8 months (ok, ok, 8 years). I barely look inside when I feel a hand on my shoulder pulling me back. It was the Men in Black agent, with his clinical eye for ETs, rightly preventing a strange specimen to enter such a place.

Feeling what had to be some five kilos of hand pressure on my shoulder, I mind, with my alien tail between my legs, the dry invitation to turn away and go through the interrogation of name, telephone, id number, planet, eating habits and so on before being allowed to enter.

Still trembling, I go to the counter and ask for a beer. Alcohol is the easiest way for those feeling like a fish out of the water. Quickly you feel relaxed, at ease and even part of the gang. Some become so unaware they flirt with the gorgeous blond woman by the counter drinking a pink cocktail with a straw. I’m not one of those. I keep both feet on the ground. And my wife at close distance.

I have one, two (the glass was big) and I already feel at home. The tongue is slightly numb and the eyes begin to close a bit, but the place was dark and noisy and nobody would take notice. When the band starts playing Bon Jovi’s Livin’ on a Prayer I thought ‘hey, I know this one, I can dance to it’.

I was wrong. First it’s sort of impossible to move within ten centimeters I scarcely conquered in the dance floor. It felt like live canned sardines. Even so, everyone was happy, smiley, including my wife, who was just behind me, having some sparkling wine with a straw and laughing with a friend.

While everybody cheerfully sang the chorus really loud, I just opened my mouth to yawn. I was wondering if Globo Repórter (TV show such as 60 Minutes) was over, if my son was all right in my mother’s house. Nothing against the place, the music nor the guests. Everyone was fine, I swear. I was the problem.

The thing is parenthood also brought an indescribable pleasure for staying in, with my family. It’s stronger than us, those who have children understand what I’m trying to say. Places like that, that used to be the literal translation of fun, become just a nostalgic memory of a time that is gone.

When I got to my mother’s house and heard the snoring and the warm breath of Antonio in the cradle, I felt peace. I stood in the door for 10 minutes, hypnotized by that small adoring person. Even though it was 3 a.m., during the time I stood there, I didn’t yawn a single time.


Tradução: Mariana Casals

7 comentários:

  1. Alien: esse é o sentimento! Não poderia concordar mais, Fabinho! Massa demais o texto.Abs

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  2. Amei, Fabio!! Vou ler sempre!! A maneira que a vida nos toca acompanha mesmo a nossa evolução. O que um dia fez muito sentido, hoje gera bocejos por falta de emoção. E o que um dia nos causava sono, hoje é motivo, é incentivo, é a única razão...

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  3. Adorei o texto! Divertido! Real ... E achei lindo o comentário de CAMILA HOMISI . Que singelo ! Parabéns a vocês!!

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  4. Caro irmão, o melhor de tudo dessa sua “terapia” é que nós, leitores, seremos imensamente beneficiados com ela. Com certeza ela será capaz de muitas vezes nos tocar e nos comover; diversas outras será pura diversão. Com frequência, também nos fará refletir e questionar. E sempre contribuirá e acrescentará algo em nossas vidas, nem que seja no ramo da “futilidade necessária”! Good luck and have fun. A gente fica aqui torcendo para que vc não tenha “alta” logo! : )

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  5. kkkk...é exatamente assim que acontece! Peixe fora d'água, sem saber dançar e às vezes até sem saber o que conversar...faz parte e é tão bom né saber que estamos construindo a nossa outra parte, fases e fases da vida! Amei vou acompanhar sempre seus posts, porque como disse minha amada e querida amiga Nandinha Ludwig nós é quem ganhamos e nos divertimos com seus textos...bjos em todos.

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  6. Fabio, eu e o Bruno estamos lendo seu blog juntos (no dia do aniversario dele! êee!). É um presente para nós poder compartilhar das suas ideias, sentimentos e sensibilidade. Ficamos super emocionados! Esperamos estar com vocês - Ana, Antônio e você - em tantas mudanças e descobertas que a vida traz. Beijos com carinho e parabéns pelo blog!

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  7. Muito bom este texto! A carapuça serviu bonito em mim! Não saio há uns 5 anos aqui em Zürich, mas me vejo presa aos convites de amigos, qd estou em BSB. E como eu bocejo... Risos! Bom mesmo, é estar perto do meu filho!

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