tag:blogger.com,1999:blog-22155789062397725252024-02-20T10:08:24.847-03:00flizamQuando me tornei pai de uma criança especial, sabia que precisaria de terapia. Comecei a escrever.Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.comBlogger73125tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-35909126116549750612014-09-22T15:17:00.000-03:002014-09-22T15:36:52.364-03:00Reeleição<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Aqui em casa o Presidente está reeleito.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Nos últimos quatro anos, fez um corte
drástico nos gastos de viagem do Ministro da Fazenda e da Ministra da Educação.
As despesas com outros itens supérfluos como idas ao cinema, a festivais de música e a eventos noturnos, mesmo
aqueles em que só é preciso levar o que for beber, também despencaram. Tendem a
zero há vários meses.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O consumo das famílias, entretanto,
aumentou. Itens antes inexistentes na mesa das pessoas, como leite em pó,
Danoninho e gelatinas de todas as cores, hoje são uma realidade diária. Nunca
antes na história desse país consumiu-se tanta farinha láctea. Logo nos
primeiros meses de mandato do Presidente, a indústria de fraldas descartáveis
teve um crescimento de aproximadamente 500%. O comércio também se manteve
aquecido e obteve lucros inéditos, em especial o de vestuário infantil e o de
brinquedos.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">A área da saúde também tem apresentado
índices positivos. Com medidas simples, como remédios preventivos e melhorias na
textura dos alimentos, conseguimos desopilar as emergências dos hospitais. Sabemos
que ainda há muito para fazer, em especial na questão do excesso de viroses por
ano. Por isso esse Governo está lançando o programa Menos Médicos, com uma
série de ações para reduzir as visitas ao pediatra.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Como todos sabem, uma das medidas mais
revolucionárias do primeiro mandato do nosso Presidente foi a redução da
quantidade excessiva de Ministérios. O Ministro da Fazenda acumulou também as
funções de Ministro do Planejamento, do Esporte, da Cultura e do Turismo. A
Ministra da Educação, por sua vez, passou a comandar também as pastas da Saúde,
dos Transportes e da Agricultura, além da
Secretaria Especial dos Direitos da Mulher, com foco especial no direito de
demorar para se vestir. Para o bem geral da nação, decidiu-se manter o
Ministério da Casa Civil com um sistema de revezamento de Secretárias, que são
“os braços direito e esquerdo” do nosso Presidente, em especial nos momentos de
comer, de tomar banho e de botar os vídeos da Galinha Pintadinha.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Os assuntos referentes à mobilidade urbana
continuam sendo um grande desafio. A nação continua engatinhando para uma
solução, mas ainda não anda com as próprias pernas. Soluções provisórias, como
os programas assistenciais Colo do Papai, Colo da Mamãe e Carrinho de Bebê já
dão claros sinais de que logo não serão suficientes para suportar a demanda por
locomoção. Mas o Governo está comprometido a encontrar alternativas já no
primeiro ano do novo mandato, com auxílio de uma comissão de especialistas e fisioterapeutas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">A sustentabilidade é também prioridade para o nosso Presidente, que dedica atenção especial para o abastecimento de
água. Grande admirador de pias com água corrente – a ponto de ter desenvolvido
uma obsessão por banheiros e cozinhas –, Vossa Excelência implantou um sistema
de compensação: todos os dias, em vez de abrir o chuveiro, toma banho em seu
miniofurô, que é muito divertido e ainda economiza água. Há também uma grande
preocupação com as matas, visto que um passeio pela sombra das árvores continua
sendo sua segunda opção preferida de lazer, atrás apenas de mergulho em
piscinas de bolinhas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O tema educação se mantém como a maior
bandeira desse Governo. Para atender as diversas necessidades de aprendizado, o
Presidente implantou um sistema multidisciplinar, com terapias e atividades
especiais pela manhã e currículo tradicional em escola regular à tarde. Os
índices do IDEB apresentaram sensível melhora, mas sabemos que, assim como na
questão da mobilidade, algumas mudanças serão necessárias para atingir as
próximas metas. A Ministra da Educação e o Ministro da Fazenda estão
trabalhando em parceria para encontrar o melhor modelo de educação para o País.
O Presidente solicitou que eles apresentem um pacote de medidas para
implantação já em 2015.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Já são quase quatro anos de grandes mudanças.
Nosso País passou por algumas das suas piores crises, mas saiu fortalecido de
cada uma delas. Desde o início da campanha, as pesquisas davam a reeleição do
Presidente como certa. Pois durante todo seu mandato, governou com quase 100%
de aprovação, caindo alguns pontos apenas quando enfiava os dedos na boca e
vomitava tudo o que comia. No início havia muito medo. O futuro era incerto. Os
países em volta olhavam com receio. Mas aos poucos, os problemas foram sendo
contornados. O Presidente se revelou a figura mais carismática que esse País já
conheceu. Sem dizer uma palavra, é capaz de convencer pais, mães, avós, tios,
primos, médicos, professores e babás a fazerem o que ele deseja. Hoje vivemos
uma vida comum, com preocupações comuns, como qualquer família com criança em
casa. E podemos repetir uma famosa frase com propriedade. A esperança venceu o
medo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-25emAeZHw9Q/VCBnf4aRlzI/AAAAAAAAA-E/zoynoPVA7uc/s1600/TomTom21Set14.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-25emAeZHw9Q/VCBnf4aRlzI/AAAAAAAAA-E/zoynoPVA7uc/s1600/TomTom21Set14.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-84879129131164813042013-10-07T13:25:00.000-03:002013-10-07T13:25:02.310-03:00Perdas<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-o5vz2Xs0Hx0/UlLe-U4f07I/AAAAAAAAA7k/PhzGAZSF7T4/s1600/desenhoperna.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="302" src="http://3.bp.blogspot.com/-o5vz2Xs0Hx0/UlLe-U4f07I/AAAAAAAAA7k/PhzGAZSF7T4/s400/desenhoperna.jpg" width="400" /></a></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Nessa semana, em parte por conta da impossibilidade de
decorar tantas senhas e nomes de usuários, em parte por causa do meu
analfabetismo digital, corro o risco de perder o domínio flizam.com. Por isso,
este é possivelmente meu último <i>post</i>
sem a indesejável extensão “blogspot” no nome do <i>blog</i>. Veja bem: possivelmente. Após algumas ligações internacionais
para o provedor do domínio, seguida de algumas horas de recuperação de <i>logins</i>, <i>passwords</i> e atualização de cartões de crédito, acredito que o
problema está resolvido, apesar de não ter recebido confirmação alguma.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Essa microscópica experiência, quando comparada a tudo de
mais importante que pode acontecer na vida, trouxe de volta à minha mente uma
verdade tão frequente, tão inegável, que perceber a sua existência chega a
parecer clichê: temos uma propensão a dar o verdadeiro valor para as coisas apenas
quando estamos prestes a perdê-las.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Por favor, perdoem-me por utilizar filosofia tão barata. A
questão é que essa ideia se presta perfeitamente como abertura de um relato de
outra experiência, que tive há cerca de vinte dias, esta certamente bem mais
relevante do que minha caça a senhas perdidas na <i>internet</i>.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Todos os anos, de 18 a 25 de setembro, o Brasil celebra a
Semana Nacional de Trânsito, com campanhas de conscientização para motoristas e
uma agenda nacional para discutir os problemas relativos à segurança nas ruas e
estradas. Neste ano, tive a oportunidade de participar da criação da campanha,
com objetivo de ajudar a reduzir os acidentes de trânsito no País.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Independentemente da ideia criativa, pois basta assistir o
comercial para entendê-la, o ponto importante desse trabalho foi ter histórias
reais por trás desse comercial: a história das vítimas de acidentes de trânsito
que aceitaram participar da campanha.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Para quem não trabalha em publicidade, a produção de um
comercial pode parecer algo bastante confuso e impessoal. É preciso acertar
iluminação, figurino, maquiagem, câmera, som, cenário, figuração, entre uma
série de outros detalhes técnicos, que podem transformar uma simples cena de
alguns segundos em um trabalho de muitas horas, envolvendo dezenas de pessoas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Cheguei ao <i>set</i> de
filmagem – um hospital de reabilitação para crianças com deficiência – por
volta de oito da noite e encontrei o cenário típico: várias pessoas do <i>staff </i>andando de lá pra cá com
equipamentos de vídeo, plugando cabos, ligando refletores, acertando trilhos
para a câmera, medindo iluminação e fazendo tudo o que se faz antes de qualquer
filmagem profissional.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Porém neste caso havia uma diferença. Em vez de atores
tranquilos, sentados em suas cadeiras, esperando pelo chamado do diretor, desta
vez encontrei famílias de três vítimas de acidentes de trânsito, olhando com
alguma dúvida (e curiosidade) para toda aquela movimentação, sem ninguém ao
lado que explicasse de maneira mais clara tudo o que estava acontecendo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">No momento que entrei no <i>set</i>,
senti que havia uma tensão no local. Os nossos participantes eram pessoas com
sequelas graves de acidentes. E por algum momento, senti que ninguém por ali
havia conversado com eles da forma que eu gostaria que tivessem conversado
comigo, caso eu tivesse topado levar o Antonio para um comercial, por exemplo.
Pior que isso, senti que algumas pessoas evitavam olhar para eles, como se não
quisessem ser indiscretos ao observar a evidente deficiência.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Aquela situação me incomodou profundamente. Precisava
quebrar o gelo e estabelecer uma relação mais humana – e menos profissional –
com aquelas pessoas. Imediatamente pedi para ser apresentado às famílias. Falei
com eles um a um, contei que eu sou pai de uma criança com deficiência e que
conheço de alguma forma o calvário deles em incontáveis sessões de
fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, entre outras terapias de
reabilitação. Expliquei que fui um dos criadores da campanha e agradeci a
coragem de exporem as suas histórias em prol de uma causa importante, que é
reduzir os acidentes.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Em questão de minutos, percebi o clima mudar. Pouco a pouco,
as famílias sentiram-se mais à vontade. E a equipe no <i>set</i> também. A situação ficou mais confortável para que eles
pudessem compartilhar as suas histórias. Criamos vínculo. Apesar de meu filho
não ser vítima de acidente, e sim ter nascido com uma síndrome genética,
confesso que naquele momento me sentia mais parte daquelas famílias do que da
equipe de profissionais que estava produzindo a campanha. Temos uma luta em
comum por nossos direitos. Sofremos os mesmos tipos de preconceitos. Senti que
estava junto dos “meus”. E tenho certeza de que a recíproca foi verdadeira.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O primeiro participante que conheci foi o João, um pai de
família, de São Paulo. No dia do acidente, ele estava passeando de moto com a
esposa, quando decidiu parar no acostamento de uma rua. De repente, um carro
desgovernado surgiu do nada e bateu neles. João perdeu uma das pernas até a
altura da coxa. A esposa dele foi jogada para longe e faleceu por falta de
socorro. João hoje anda com prótese e trabalha para recuperar os movimentos do
braço esquerdo, que também foi atingido.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Em seguida conheci a Wellen e sua família. A Wellen tem 22
anos e sofreu um acidente com 17. Estava no banco do passageiro, sem o cinto de
segurança. O motorista sofreu apenas pequenos ferimentos. Wellen, por outro
lado, foi jogada pra fora do carro e ficou em coma por dois anos. Depois de
acordar, progrediu muito. Deixou de se alimentar por sonda e já consegue
ingerir alimentos pastosos. Porém ainda não recuperou os movimentos do corpo e
não se comunica pela fala. Aprendeu um sistema de comunicação por sinais dos olhos.
E está batalhando para conseguir se comunicar por computador.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Por fim conheci a Andrea, uma garota de 29 anos que sofreu
um acidente em 2010. Ela estava voltando de uma noite com as amigas. Ao buscar
o carro na casa da amiga, chegou a ser convidada para dormir lá, mas recusou.
Andrea não se lembra detalhadamente do que aconteceu, mas parece que bateu num
carro, sem grandes consequências. Não se sabe exatamente porque, em vez de
descer do carro e resolver o problema, Andrea fugiu da situação. Nesta fuga
colidiu novamente, desta vez num poste, e com gravidade. Andrea também ficou em
coma e hoje se movimenta com bastante dificuldade, com auxílio de andador.
Também teve a fala e a visão afetadas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Apesar dos imensos desafios que têm à frente e de obviamente
ainda sofrerem muito ao relatarem suas histórias, todas as famílias que participaram
da campanha mantêm uma postura de perseverança. O maior sinal de atitude
positiva é ter objetivos de vida. E isso todos eles mostraram ter. João recusou
a aposentaria a que tem direito e está treinando para participar de maratonas e
campeonatos de futebol. Wellen está focada em conseguir se comunicar por
computador para voltar a estudar direito, curso que interrompeu por causa do
acidente. Andrea chegou a dizer na campanha que “não desiste nunca” e quer
voltar a trabalhar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Além de ter desenvolvido um inevitável afeto em tempo
recorde por essas pessoas, fiquei imaginando o quanto eles devem ter passado a
dar valor à vida que por pouco não perderam. Infelizmente os acidentes
trouxeram mais consequências ruins do que boas. Mas é inegável que após esse
tipo de experiência as pessoas mudam pra melhor. As perdas e ganhos tomam novas
proporções. E é nisso que me identifico com eles. É nesse ponto que o Antonio
me transformou.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Assim como João, Wellen e Andrea, eu sei o quanto o simples
ato de andar é importante e difícil. Sinto diariamente na pele (na verdade, na
coluna) as dificuldades do meu filho. Assim como os parentes de João, de Wellen
e de Andrea, também sei como é passar por uma tragédia na família – tragédia
não é a melhor palavra, mas é a que vou usar. Sei como é viver aquilo que
ninguém quer viver. Experimentei na minha própria vida aquilo que chamamos de
azar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Olhando para trás, vejo que o que mais me tocou ao fazer essa
campanha foi ver que mais do que perder uma perna, mais do que perder os
movimentos, mais do que perder a fala, aquelas famílias perderam algo que só
atrapalha as nossas vidas: <b>a sensação de
invulnerabilidade</b>. E entendi que é por isso que me sinto como um deles.
Porque foi exatamente isso que eu perdi, no instante em que vi meu filho
nascer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Se quiser conhecer, assista o <i>making of</i> e o filme da campanha <a href="https://www.youtube.com/watch?v=wCZfl6dvcnU">aqui</a>.</span></span></div>
<br />
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-12439976093088861282013-08-26T23:47:00.000-03:002013-08-27T00:39:52.248-03:00Chorume literário<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br></span></span>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Preocupado com o futuro e motivado por uma imortal esperança de organizar minha vida financeira de um jeito mais inteligente, decidi ler
alguns livros de autoajuda sobre o tema.</span></span><br>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Não assumo isso sem embaraço, já que autoajuda é aquela
categoria que invariavelmente traz valores depreciativos ao seu leitor, seja ele
um verdadeiro desesperado, seja ele apenas um curioso.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Assim como todo mundo, também sinto pena ao observar alguém
tirando uma edição de “Como Fazer Amigos & Influenciar Pessoas” da
prateleira. A mim, parece óbvio que a lição número 1 para se fazer um amigo
deveria ser “não leia um livro cuja capa revele que você não tem nenhum.”</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Porém, ao ter coragem de ler meus livros de autoajuda (juro
que não são muitos) somente em ambientes privados, geralmente trancafiado no
quarto, percebi algo bastante preocupante: precisar de ajuda é algo que
envergonha as pessoas. E buscar ajuda – uma atitude louvável 100% das vezes – é
visto, quase na mesma porcentagem, como fraqueza ou algo constrangedor.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Talvez o preconceito esteja em pagar por essa ajuda, já que
um bom bate-papo com um amigo ou um familiar é um remédio largamente utilizado
desde quando o homem parou de marretar mulheres na cabeça e começou a se
comunicar. Porém, dentro de cada um de nós reside algum preconceito inexplicável
com relação a ressarcir alguém ou adquirir algum produto que ofereça uma ajuda
mais profissionalizada. Psicólogo é coisa de louco. <i>Personal trainer</i> é frescura de rico. Professor particular é pra
burro. <i>Site </i>de namoro é pra quem não
consegue comer ninguém. E a lista segue.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O problema é que, com medo de julgamento ou de virar chacota
entre os amigos, ficamos em um limbo em que nem buscamos alguém que possa
resolver a situação, nem adotamos uma atitude “faça você mesmo”, tão comum nos
Estados Unidos, não por acaso, um dos países que mais cria <i>best-sellers</i> mundiais de autoajuda.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Independentemente das inúmeras promessas falsas estampadas
nos títulos desses livros, e mesmo com a compreensível equiparação a chorume
editorial – muitos, de fato, são terrivelmente escritos e traduzidos –, as
imensas mesas sobre o tema na porta de cada livraria são um sinal inegável de
algo importante: todos nós queremos algum tipo de ajuda. Na maioria das vezes,
com soluções fáceis, sim. Muitas vezes amparados por teorias improváveis, sim.
Cegos por ilusões e fantasias, sim. Mas queremos. E não há mal nenhum em pagar
por ela, ainda mais se for um livro barato. Relaxe e goze. Se preciso, em 10 lições. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Feita toda essa defesa, segue abaixo a lista de livros de
autoajuda que pretendo escrever. Decidi seguir a primeira lição da minha atual
leitura financeira: “faça seu dinheiro trabalhar por você”. Como bom
publicitário, resolvi lançar essa campanha <i>teaser</i>,
com custo zero, para ver se cola. Quem sabe alguém por aí se interesse por um
dos títulos? Ou quem sabe um dia eu tome vergonha na cara e realmente arranje
um bom tema para escrever.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>
</b></span></span><br>
<ol start="1" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Como
Prometer Textos para Segunda e Fazer com que as Pessoas Aceitem na Terça.
Ou na Quarta.</b></span></span></li>
</ol>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>
</b></span></span><br>
<ol start="2" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Crie
Teses Semanais com Pensamentos Baseados em Nada</b></span></span></li>
</ol>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span></span><br>
<ol start="3" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Cozinha
Criativa – Desculpas e Receitas para o Lanche da Meia-Noite</b></span></span></li>
</ol>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>
</b></span></span><br>
<ol start="4" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>500
Coisas Mais Importantes do que Lavar a Louça </b></span></span></li>
</ol>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span></span><br>
<ol start="5" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Seja
Feliz Dormindo – Lições Para Quem Ainda Não Tem Filhos</b><b> </b></span></span></li>
</ol>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Aceitamos encomendas. </span></span><br>
<br>
<br>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-Pv-1kH3fYSw/UhwScV__q6I/AAAAAAAAA7U/s8xpri9K48k/s1600/Dale-Carnegie.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="267" src="http://3.bp.blogspot.com/-Pv-1kH3fYSw/UhwScV__q6I/AAAAAAAAA7U/s8xpri9K48k/s320/Dale-Carnegie.png" width="320"></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dale Carnegie, autor de "Como Fazer Amigos & Influenciar Pessoas", pensando nos milhões que ganhou.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-48485609580407978972013-08-05T22:29:00.001-03:002013-08-05T22:56:23.537-03:00Banzo<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Há alguns meses eu havia escrito sobre uma árvore que tinha
ganhado de presente e sobre quanta vida e alegria ela tinha trazido para a nossa
casa. Estranhamente, pouco depois de publicar o texto, a planta começou a
definhar. O processo foi longo e sofrido. Com imensa tristeza, vimos as folhas
começarem a queimar nas pontas, depois a secar e, por fim, assistimos a cada
uma cair no chão. Os meses passavam e parecia que a árvore dava seus últimos
suspiros. Com muito esforço, chegava a gerar brotos de novas folhas, mas por
alguma razão desconhecida, por mais que se aguasse ou trocasse o vaso de lugar,
algo simplesmente os impedia de vingar. Olhei para aqueles galhos secos e senti
que era uma luta perdida. Imaginando que a nossa varanda não era o ambiente
ideal para aquela espécie, comecei a considerar outras árvores para colocar em
seu lugar.</span></span><br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Apesar do meu parco conhecimento botânico – e recentemente
passei a assistir a um excelente programa na TV Cultura, “Um Pé de Que?”, para
diminuir essa defasagem –, na hora me lembrei das pimenteiras e da crença de
que elas murcham quando há mau-olhado em algum lugar. Afinal, se existe algo que
irrita grande parte da população é alegria, felicidade e bom-humor, ainda mais
quando motivados por coisas simplórias, como plantas ou sol, em vez de coisas
mais importantes, como dinheiro. E de fato, àquela época, de mudança para uma
casa nova com varanda e sem boletos de aluguel, eu provavelmente deveria
parecer insuportavelmente contente aos olhos de quem estava tendo uma semana
qualquer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Superstições deixadas de lado, não comprei pimenteira, nem
olho grego, nem espelhos para colocar na parede. Na verdade, em momento algum
levei a sério a hipótese de que a árvore pudesse morrer por causa de inveja ou
de energia negativa. Tendo a precisar de algo mais científico para me ater. E
como toda casa sempre tem algo faltando ou algum conserto pendente, deixei
outros assuntos ganharem prioridade antes de decidir o que fazer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Um evento interessante que já deve ter sido amplamente estudado e
descrito cientificamente é a capacidade humana de parar de prestar atenção em
coisas que vemos todos os dias. Um exemplo clássico é quando dirigimos “no automático”.
De tão acostumados com um caminho, quando percebemos, já estamos chegando ao
destino e mal lembramos de termos percorrido as ruas anteriores. Eu, distraído
por vocação, tenho praticamente uma cegueira para objetos rotineiros. Sou o
típico sujeito que nunca encontra o abridor de latas na gaveta. Perco mais
tempo procurando o carregador de celular do que de fato carregando a bateria.
E, como era de se esperar, havia semanas que eu não observava a planta
na varanda.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi por isso que ontem, no meio do jantar, tomei um susto ao
perceber que a árvore estava repleta de folhas verdes e tinha quase o mesmo aspecto
com que chegou para a gente. Minha mulher, com toda a naturalidade, lançou a
sua teoria. “É assim mesmo. As folhas secam e depois nascem de novo.” É
muito provável que ela tenha razão, mas confesso que essa tese de ciclo da planta me
parece simplista e um tanto sem graça. Meu imaginário sugere que a árvore deva
ter passado por um período de adaptação ao novo lar. Um “banzo” vegetal, aos
moldes dos escravos africanos, que chegavam a adoecer e até a morrer de
saudades da sua terra natal. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Só o tempo dirá o que aconteceu. Se as folhas caírem
novamente, voltaremos a varrê-las do chão, desta vez com a certeza de que logo
tudo voltará ao normal. Se a árvore se mantiver cheia daqui por diante, ganha
vida a minha hipótese, de que era preciso um tempo para ela se acostumar com a
casa, para se sentir à vontade e voltar a respirar. E quanto à crença do
mau-olhado, caso tenha existido algum, não tenho dúvidas de que acertamos no antídoto:
simplesmente ignorar.</span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-hmW0RJW2SDg/UgBRWpwXm3I/AAAAAAAAA68/w77Dg1C9tv8/s1600/arvoreseca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-hmW0RJW2SDg/UgBRWpwXm3I/AAAAAAAAA68/w77Dg1C9tv8/s1600/arvoreseca.jpg" /></a></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span>Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-48584122601021202132013-07-29T17:54:00.001-03:002013-07-30T16:36:09.126-03:00Para Cora<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br>
<div class="MsoNormal">
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Há cerca duas semanas fomos avisados, por uma mensagem para
o grupo de pais do qual fazemos parte, que uma criança americana com deleção no
mesmo cromossomo que o Antonio – o cromossomo 6 – não resistiu às complicações
da síndrome.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Não se pode dizer que ela tinha a mesma síndrome que o nosso
filho. Deleções são partes apagadas do código genético. Se a criança nasce com
um determinado pedaço apagado, as complicações podem ser problemas renais,
respiratórios, entre outros. Porém, se o bebê nasce com outro pedaço perdido,
embora do mesmo cromossomo, as questões de saúde podem ser completamente
diversas, como problemas cardíacos, convulsões e assim por diante. Cada gene
perdido é responsável pela formação de algum sistema diferente. E já que os
genes apagados nas crianças raramente são coincidentes, pode-se dizer que a
síndrome do Antonio (que não tem nome, é chamada apenas de Deleção do
Cromossomo 6) dificilmente apresenta as mesmas conseqüências de saúde para as
crianças ou o mesmo padrão de desenvolvimento. A única característica constante
é o grave atraso motor e o retardo mental. As complicações de saúde – e sua
gravidade – variam imensamente de criança para criança.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">De toda maneira, a perda de uma criança com uma síndrome
parecida, mesmo que minimamente, com a do meu filho, me comoveu de forma sem
igual. Especialmente porque a mãe da menina relatou os últimos dias dessa luta,
numa forma de compartilhar a dor, ou de refletir sobre tudo o que estava
acontecendo. Não sei os motivos. Só sei que não foram dias fáceis para aquela
família. Depois de inúmeras cirurgias sem grande sucesso e de incontáveis
tentativas de tratamentos com medicamentos, foram avisados pelos médicos que
não havia mais o que fazer para ajudar o coração da criança a funcionar. Ainda
havia uma possibilidade de uma nova cirurgia, mas o bebê estava cansado, e teria
poucas chances de sobrevivência. Os médicos dividiram que respeitariam qualquer
decisão da família, mas emitiram a opinião que talvez o melhor fosse conviver
com aquela criança da melhor maneira possível, pelo tempo que fosse possível.
Por respeito à vida daquela pequena criança, talvez fosse a hora de parar de
tentar salvá-la.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Não posso imaginar o quão difícil deve ter sido para esses
pais tomar uma decisão tão dura. A bebê, chamada Cora, era a terceira de uma
família completamente saudável. Sua irmã e irmão, poucos anos mais velhos, não
viam a hora de voltar com a caçula para casa, quando seus pais tinham que
pensar – sem perder a cabeça – na possibilidade de autorizar que aquele bebê
nunca mais voltasse.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Com uma dor transmitida a cada frase, a mãe relatou que eles
decidiram pela felicidade do bebê. Sentiam que sua filha estava cansada.
Sentiam que haviam tentado de tudo. Decidiram tirar os tubos de respiração.
Decidiram interromper a medicação. Decidiram deixá-la viver melhor, mesmo que
isso fizesse o coraçãozinho dela parar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Cora ainda sobreviveu 48 horas. Sorria sem parar. Trocava
carinhos com a mãe. Recebeu visitas de inúmeros amigos da família. Cantaram
“Three Little Birds” para ela. Ganhou últimos beijos dos irmãos. O relato
deixou claro que foram momentos inesquecíveis. Vê-la sem enjoar por causa dos
medicamentos. Vê-la bem, sorridente, brincando com as mãozinhas, mesmo que com o
aviso dolorido dado pela sua respiração, cada vez mais curta e difícil.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Depois de muito lutar e de ganhar de presente dois dias de
vida normal, Cora faleceu nos braços de sua mãe, numa noite tranquila, pouco
depois da meia-noite, ouvindo cantigas, coberta de beijos e amor.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Na manhã seguinte à noite em que li esse relato, abracei meu
filho longamente. E percebi que algo havia mudado em mim. Entendi, de
forma mais clara do que nunca, o quanto tivemos sorte com o Antonio, mesmo nos
dias mais difíceis. Relembrei os últimos meses e vi que todas as questões de
saúde que passamos com ele sempre tiveram resultado positivo. Desde que ele
nasceu, não perdemos uma batalha sequer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Ao ver aquela família, igualmente dedicada, ter que tomar a
difícil decisão perder o seu bebê, entendi que o bem-estar do meu filho não é
somente resultado de bons cuidados ou do amor que temos por ele.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">A vida – dele, minha, da nossa família – é um presente.<span> </span></span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span>E desde aquele dia, tenho procurado formas de
agradecer.</span></span></span><br>
<br>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-tBTueZ4b7ZM/UfbV5ctb9QI/AAAAAAAAA6w/RSuBVOtDtqM/s1600/Coracao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://2.bp.blogspot.com/-tBTueZ4b7ZM/UfbV5ctb9QI/AAAAAAAAA6w/RSuBVOtDtqM/s320/Coracao.jpg" width="320"></a></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com29tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-77228636086300451732013-07-23T00:56:00.000-03:002013-07-23T09:06:57.269-03:00Índice de felicidade<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Deu no Estadão, em 26 de
junho de 2013:</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Um centro de estudos chamado
Fundação Nova Economia, sediado em Londres, em parceria com uma organização
ecologista chamada Amigos da Terra, criaram o <b>Índice</b> <b>Planeta Feliz</b>,
calculado com base na sensação de bem-estar e na expectativa de vida dos
cidadãos, além da eficiência ecológica do país.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Para minha surpresa, essa
foi a lista dos 10 países mais felizes.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">1º:
Costa Rica</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">2º: Vietnã</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">3º: Colômbia</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">4º: Belize</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">5º: El Salvador</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">6º: Jamaica</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">7º: Panamá</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">8º: Nicarágua</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">9º: Venezuela</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">10º: Guatemala</span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O Brasil aparece na 21ª posição entre 151 nações. Países desenvolvidos também
não foram muito bem. O Reino Unido está 41º lugar, seguido por Japão (45º),
Alemanha (46º), França (50º), Itália (51º), Canadá (65º), Estados Unidos (105º)
e Rússia (122º).</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">* * *</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Conclusões. Para ser feliz,
é preciso:</span></span><b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span></b><br>
<br>
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">a) morar numa praia com água
azul safira;</span></span></b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Ou verde esmeralda. Ou tão
transparente que você vê o fundo do mar a metros de profundidade. O importante
é ter água. Se possível, ardente. Com gelo e um enfeite de guarda-chuva
colorido.</span></span><b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span></b><br>
<br>
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">b) não sentir frio;</span></span></b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Chega de molhar os pulsos
antes de entrar no mar. Chega de abrir o chuveiro e pular pra fora do box até a
água esquentar. Ser feliz é andar de camisa aberta. É dormir com ventilador na cara. É achar natural usar estampa de hibiscos. É ver a temperatura cair pra 27º C e chamar de
inverno.</span></span><b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span></b><br>
<br>
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">c) saber dançar ritmos
caribenhos;</span></span></b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Veja bem: supõe-se que mesmo
com praia e sol, é difícil ser feliz na solidão. E já que 9 entre os 10 países mais
felizes se situam na América Central, ou no norte da América do Sul, é possível
que a sua alma gêmea se encontre suada e rodopiante numa pista de dança similar
ao inferno de Dante. Vá treinando suas cantadas em espanhol. Reveja
a abertura de Rainha da Sucata. Porque se este estudo estiver certo, o casal
mais feliz do mundo deve se vestir, se comportar e se mover como Gloria
Estefan e Sidney Magal.</span></span><b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span></b><br>
<br>
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">d) ter uma raquete de matar
mosquitos;</span></span></b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Calor e umidade são o Viagra
dos insetos. É só chover que não sobra ovo sobre ovo. Lagoa vira ópera. Poste
de luz vira rave. E a gente vira buffet, para pernilongo aperitivar. Antes de
tentar ser feliz nas proximidades da linha do equador, vale treinar uns saques e voleios na quadra de tênis. Você vai
precisar.</span></span><b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span></b><br>
<br>
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">e) desconfiar de índices sobre
felicidade.</span></span></b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Em uma rápida busca na internet,
o primeiro resultado foi uma matéria
sobre outro estudo, dessa vez realizado por pesquisadores da World Gallup, uma
organização que tem a intenção de investigar pensamentos e comportamentos da
população mundial por meio de amostras representativas.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Entre 2005 e 2009, eles fizeram
um levantamento em 155 países a fim de medir dois tipos de bem-estar.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Primeiro, eles pediram aos
voluntários para analisar sobre a satisfação geral com suas vidas. E em
seguida, fizeram perguntas sobre como cada sujeito se sentiu no dia anterior.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Segue o resultado dos 10
países mais felizes.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">1º: Dinamarca</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">2º: Finlândia</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">3º: Noruega</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">4º: Suécia</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">5º: Holanda</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">6º: Costa Rica</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">7º: Nova Zelândia</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">8º: Canadá</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">9º: Israel</span></span><br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">10º: Suíça</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O Brasil aparece em 12º. E
exceto a Costa Rica (destino que eu e você devemos considerar seriamente para
as próximas férias), nenhum dos países da lista anterior apareceu nesta segunda. Isso
somente comprova que felicidade é algo imensurável, incomparável e baseado em
infinitas variáveis, todas sensíveis a fatores externos, como desastres
naturais ou situação econômica. Tentar estabelecer uma métrica, seja
financeira, seja psicológica, não passa de um embaralhamento de informações com
resultados aleatórios. Tão confiáveis quanto uma carta de tarô ou uma bolinha
na roleta.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Este é um daqueles casos em
que compreender a situação macro é bem simples do que analisar um cenário
micro. Se entendemos com facilidade que qualquer comparação entre a felicidade
dos suecos e a dos guatemaltecas é mera questão de focar em um ou outro
aspecto, por que temos tanta dificuldade – e por que damos tanto crédito –
quando comparamos a nossa própria felicidade com a de pessoas que estão ao
nosso redor? Passamos a vida nos equiparando uns aos outros e repetidamente nos
sentimos frustrados, por maiores que sejam as nossas próprias conquistas. Por
que não conseguimos compreender que é impossível ter o máximo em tudo? Por que não nos
satisfazemos simplesmente com o que temos ou realizamos?</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Também sofro desse mal. E
não tenho a resposta para essas perguntas. Porém acredito que são mais felizes as
pessoas que sabem definir o que amam. E sempre que conheço alguém interessante,
dou um jeito de descobrir alguns dados nesse sentido. Tenho uma curiosidade
especial pela comida que cada um mais gosta. Porém, em vez de perguntar “qual a
sua comida preferida?”, geralmente lanço uma questão maior: qual seria a sua última refeição,
se você pudesse escolher? Se tivesse no corredor da morte, o que pediria para
servirem a você?</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">É interessante ver como essa
mudança de perspectiva – a proximidade da morte e o tempero da “última vez” –
faz as pessoas demorarem um pouco mais para responder. É mais interessante
ainda ver que raramente as refeições escolhidas são pratos sofisticados ou
inacessíveis. São receitas simples, que não precisamos estar na Dinamarca, nem
na Costa Rica para comer.</span></span><br>
<br>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Meu
prato no corredor da morte – pode mudar ao longo do tempo – atualmente seria
estrogonofe de frango, arroz branco, batata palha, uma Coca-Cola, um chope, um
pudim de leite, um pouco de ambrosia e um café espresso. E assim percebo que
posso ser imensamente feliz no almoço de amanhã. Sem segredos, sem pesquisas, sem
muito dinheiro. É questão de querer.</span></span><br>
<br>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-EGYnBEPNrHo/Ue37HZ7NAeI/AAAAAAAAA6g/edgBQpKTRNU/s1600/CostaRica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-EGYnBEPNrHo/Ue37HZ7NAeI/AAAAAAAAA6g/edgBQpKTRNU/s320/CostaRica.jpg" width="320"></a></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-53626388612745241312013-07-15T01:28:00.000-03:002013-07-15T01:47:22.694-03:00Pais e filhos<div style="text-align: left;">
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><i><b>“Meu filho vai ter nome de
santo</b></i></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><i><b>
</b></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><i><b>Quero o nome mais bonito.”</b></i> </span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Um dos primeiros discos que
ganhei na vida foi “As Quatro Estações”, da Legião Urbana. Tenho guardada na
memória a cena em que eu tiro o vinil da sacola e fico olhando para a capa prateada,
sem ter certeza do tipo de música que aquela banda tocava. Mal sabia eu que
estava em frente a um dos presentes que eu mais aproveitaria, e que eu o
ouviria centenas de vezes, e que ficaria horas lendo as letras (como era bom ter
encartes com as letras!), até decorá-las todas. Tempos bons. Pelas minhas
contas, desde aquela época já se vão quase cem estações. E hoje, depois de
abandonar Brasília e de voltar para ela, depois de ser pai, depois de viver um
pouco, vejo que letras de músicas como “Pais e Filhos” e “Há Tempos” continuam
a falar profundamente com a minha alma, apesar dos anos. Talvez por isso
assistir a Faroeste Caboclo no cinema e ir a um show em tributo a Renato Russo,
como fiz há algumas semanas, tenham tido um gosto tão especial.</span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Nos últimos meses, a vida
com o Antonio – e com a sua deficiência que tanto nos assustava – tomou um rumo
de normalidade bastante inesperado, dadas as expectativas usuais de uma família
com uma criança especial. Há dois anos, nem no mais otimista dos meus dias eu
poderia imaginar que tão cedo estaríamos com as rédeas nas mãos e tocando o
dia-a-dia com certa tranquilidade, apesar da imensidão de incertezas que ainda
persiste em relação ao futuro dele. O fato é que estabilidade de saúde, de
rotina e de sono pareciam utopias há não muito tempo. Por sorte não eram. Pouco
a pouco, fomos encontrando os medicamentos, os alimentos e as terapias que nos
livraram das frequentes e desgastantes visitas ao hospital. Hoje só temos o
sono interrompido por uma virose ali, uma tosse aqui, nada fora do comum.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Só que todo ser humano vem
com um defeito de fábrica e apresenta uma insistência em procurar sarna para se
coçar. E já que o Antonio cresce, engorda e sorri, a neurose dos pais se volta
quase completamente para o seu desenvolvimento cognitivo e motor, que é
ascendente, porém lento, extremamente lento.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Criar uma criança que tem
deficiência física e intelectual é, antes de tudo, um teste de paciência. Entendo
perfeitamente quando me dizem que ter um filho especial é um presente. E é.
Porém é um daqueles presentes que vêm com manual, dos grandes, sem figuras, e numa
língua que você não consegue decifrar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O maior desafio é decidir
qual a melhor forma de ensinar a criança ou tratar um problema de saúde. E é importante
entender que todas as soluções têm prós e contras. Escolher todos os caminhos
reduz a chance de sucesso, pela falta de consistência. Escolher apenas um é
como fazer uma aposta: pode dar certo, mas pode ser pura perda de tempo. A
decisão natural passa necessariamente pela busca de mais informações com
profissionais da área. Para nossa decepção, há sempre defensores e opositores
de todo e qualquer método. Quase sempre temos profissionais da nossa confiança
defendendo – com argumentos críveis e embasados – caminhos opostos sobre um
mesmo tema.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Explico de forma mais
prática. Com cerca de um ano de idade o Antonio começou a sustentar os braços
no chão, como se quisesse engatinhar, porém não ficava de quatro, na posição do
gato. Em vez disso, ficava com as pernas esticadas no chão, bem abertas,
parecendo uma rã atropelada da cintura para baixo. Para ajudá-lo a manter as
pernas mais fechadas, uma profissional da nossa extrema confiança sugeriu, na
época, que amarrássemos um pano e volta das pernas dele, fazendo um “oito”, sem
apertar, apenas para estabelecer um limite na abertura das pernas. Assim,
quando o Antonio tentasse engatinhar, era mais provável que ele subisse o
bumbum e ficasse com os joelhos no chão. Achamos a ideia excelente e seguimos a
sugestão. Porém, ao comentar com outra profissional de igual confiança, ouvimos
a sugestão oposta: que deixássemos o Antonio com as pernas livres, pois elas
eram bastante ativas. E que fizéssemos uma série de brincadeiras e estímulos,
mas sem amarras. Ela acreditava que o não engatinhar era uma questão
neurológica, não física. E que o Antonio só ficaria na posição do gato quando o
seu cérebro estivesse pronto, e não por causa da amarração.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Quando duas pessoas
preparadas, confiáveis, embasadas por conhecimentos científicos e por anos de
experiência, indicam caminhos excludentes, qual seguir? E quando a terceira
opinião indica um terceiro caminho?</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Onde guardar o medo de tomar
a decisão errada? Como evitar o receio de ouvir de um profissional, daqui a
alguns anos, que se você tivesse escolhido a outra terapia, o outro método, o
outro medicamento, seu filho poderia estar melhor?</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Pelo menos no caso do
Antonio, esta é uma angústia que se repete em diversas esferas. Por exemplo, a
consistência mais adequada da comida: em pedaços, para desenvolver os músculos
da face e a mastigação, ou em consistência pastosa, para não correr risco aspirar
alimento e ter complicações? O antibiótico que ele toma diariamente: devemos
continuar, para mantê-lo longe de internações hospitalares, ou devemos
descontinuar e procurar uma solução mais arriscada para as infecções urinárias,
como uma cirurgia? A ressonância magnética que ele precisa fazer para sabermos
se escuta direito: devemos fazer, e correr todos os riscos cardíacos e
respiratórios envolvidos com uma anestesia geral, ou devemos não fazer, e possivelmente
prejudicar o desenvolvimento dele por não usar um aparelho de audição?</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">As dúvidas apenas aumentam
com relação ao desenvolvimento. Hoje o Antonio engatinha, mas do jeito dele,
diferente das demais crianças. É melhor deixá-lo utilizar sua própria forma,
mas conseguir exercer a função? Ou é melhor insistir (sabe-se lá por quanto
tempo) que aprenda a forma certa, para que siga para as próximas fases com mais
êxito e firmeza? O Antonio não leva nenhum alimento à boca (bolacha, pirulito,
doces, nada), porém passa o dia inteiro mordendo brinquedos e os dedos. O
quanto podemos insistir com um biscoito (e correr o risco de criar uma aversão)
e o quanto devemos deixá-lo livre para explorar apenas o que gosta? E seguimos
assim por diante, com as perguntas se multiplicando em progressão geométrica.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O consolo é que, para
algumas dessas questões, quando menos se espera a resposta chega. Por muito
tempo tive uma dúvida extremamente dolorida: será que meu filho sabe que eu sou
o pai dele? As razões para duvidar eram muitas. Ele não estranhava ninguém, mal
percebia quando eu saía de casa, não atendia quando eu chamava o seu nome. Até
que um dia, sentindo coceiras no rosto por ter adotado um visual Osama Bin
Laden, eu decidi tirar a barba, alvo preferido do Antonio, quando ele está no
meu colo. Nunca vou me esquecer da confusão nos olhos dele quando tocou pela
primeira vez no meu rosto liso. Ele afastou as mãos imediatamente e ficou me
examinando, tentando entender o que tinha acontecido. Ele fez mais uma
tentativa e novamente retirou as mãozinhas, como se sentisse gastura com a nova
textura da minha pele. A voz era a mesma, mas a imagem não era. E naquela
noite, ele não se divertiu comigo da mesma forma que nos outros dias. O pai
dele tinha barba. Logo, eu podia ser parecido, mas provavelmente não era o pai
dele.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Em poucos dias, a barba
voltou, assim como as puxadas e unhadas do meu filho. O pai finalmente estava
de volta, do jeito que ele reconhece. Como falei, o Antonio está progredindo.
Hoje ele vem a mim engatinhando quando eu o chamo. Estica os braços para que eu
o pegue no colo. Às vezes toca na minha barba quando estou com ele de
madrugada, e tenho certeza que é assim que ele identifica que sou eu, e não
outra pessoa. Sei que nada disso parece excepcional para uma criança. Parecem
detalhes sem importância. Mas depois de meses (anos, na verdade) esperando por
esses sinais, cada gesto é uma emoção inesquecível.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Não tenho a menor ideia se
um dia vou ouvi-lo me chamar de pai. Não tenho controle algum do que ele
aprende ou deixa de aprender. Não sei o quanto o Antonio compreende do mundo.
Mas cada vez que ele passa a fazer algo que tentamos ensiná-lo incontáveis
vezes, cada vez que ele dá um retorno aos nossos insistentes estímulos, eu sou
tomado por uma satisfação tão grande, que faz todo o esforço valer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Outro dia um vizinho
comentou comigo: “deve ser interessante acompanhar o desenvolvimento dele, né?
Porque às vezes o meu filho pode levar umas duas horas para aprender algo, enquanto
o seu pode levar muito mais, talvez semanas. Deve ser emocionante ver o Antonio
aprendendo as coisas.”</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Fiquei algum tempo pensando
que minha vida seria bem mais fácil se o Antonio aprendesse tudo mais rápido. Gentil,
o meu vizinho quis ressaltar um ponto de vista positivo com relação à
deficiência do Antonio. Apesar das dificuldades, é como se eu tivesse o
privilégio de assistir a cada instante em câmera lenta. E por um lado, meu
vizinho tem razão. Criar o Antonio é ver a mágica acontecer quadro a quadro,
com longas pausas entre cada uma delas. Minha única dúvida é se isso é algo bom
ou ruim. Não tenho certeza se viver essa experiência me faz mais ou menos feliz do
que um pai de uma criança com desenvolvimento regular. Na verdade, cada vez que
o Antonio estica os braços para mim, ele me lembra que este tipo de comparação
com outras famílias já não faz mais sentido. Ele me ama, mesmo que tenha que
esperar minha barba crescer. Eu o amo, mesmo que tenha que esperar para ele
aprender. Como bem cantou Renato Russo, temos nosso próprio tempo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-tbYJ-4AAeAQ/UeN5tcl_WTI/AAAAAAAAA6M/q-DyIRWKTTo/s1600/Renato.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-tbYJ-4AAeAQ/UeN5tcl_WTI/AAAAAAAAA6M/q-DyIRWKTTo/s320/Renato.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-80548191651696950112013-03-19T00:48:00.001-03:002013-03-19T01:15:20.496-03:00Rainha das invenções<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Qualquer mente com as sinapses em ordem, ao refletir sobre a
evolução tecnológica do mundo, rapidamente chega à conclusão de que a preguiça
é a maior inventora de todos os tempos. Foi a preguiça de andar quem inventou a
roda. Foi a preguiça de subir degraus quem inventou o elevador. Foi a preguiça
de lavar panelas quem inventou o micro-ondas. E, apesar de alguns militares e
estudantes ficarem com os créditos, foi a preguiça de encontrar as pessoas quem
inventou a internet e esse fenômeno amorfo que recentemente tomou contas das
nossas vidas: as redes sociais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Afinal, convenhamos: relacionar-se no mundo real com outras
pessoas dá muito trabalho. Tem que se vestir adequadamente, deslocar-se até o
local combinado, chegar na hora marcada, cumprimentar com um, ou dois, ou três
beijos, em alguns casos apenas com um aperto de mãos, em outros somente com um
sinal da cabeça. Tem que rir quando alguém diz algo supostamente engraçado. Tem
que ouvir as opiniões alheias, e mais, tem que fingir interesse. Não pode coçar
praticamente nenhum lugar que coce no corpo, não pode limpar o nariz, não pode
comer de boca aberta, nem dormir se o assunto está entediante. Manter uma vida
social exige uma renúncia quase absoluta de tudo o que verdadeiramente somos, e
que deixamos à mostra apenas quando estamos trancados em um lugar seguro, como
a própria casa, ou o banheiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Ainda assim, mesmo sendo muito mais fácil fazer reuniões
pela <i>internet</i>, com camisa de botões
da cintura para cima, e cuecas samba-canção e meias sujas da cintura para baixo
(e com a escova de dentes ainda intocada), nosso eu-social, ainda habituado a
outros tempos, insiste em rever as pessoas mais íntimas de quando em quando,
mais por nostalgia do que para colocar o papo em dia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Mas para isso são precisos heróis da resistência. Eu mesmo
estou há sessenta dias tentando organizar um pôquer com cinco camaradas na
minha nova residência e acho que nunca antes fracassei com tanto êxito. É
preciso admitir que nos primeiros meses minha casa não dispunha do aparato mínimo
nem para uma rodada decente de jogo do palitinho, muito menos para o nosso tradicional, embora raro, Texas
Hold’em: eu não tinha mesa. Porém, uma vez solucionada esta questão, meus
amigos e eu nos deparamos com outro impeditivo comum da vida moderna, muito
mais eficiente do que as antigas desculpas, como a distância ou a falta de
dinheiro para sair: a incompatibilidade de agendas. Nas últimas semanas, já
adiamos o jogo por causa de aniversários, de viagens para o exterior, de ter
que participar de uma corrida de rua, de ter que trabalhar no final de semana e
até por causa da abstinência etílica de um dos participantes, que voltaria a
beber somente dali a alguns dias e, por isso, preferia deixar o carteado para o
domingo seguinte. Não preciso nem mencionar que o tal participante já está
completamente livre para entrar em coma alcoólico, se assim o desejar, mas o jogo de
pôquer é o único que não consegue sair do lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Encontrar com os amigos está pior do que marcar consulta em
médico pelo plano de saúde. Daqui a pouco vamos ter que mandar um <i>save the date</i> com um mês de antecedência
pra combinar um chope. E a operação não será simples. Tem que mandar mensagem
por celular, por e-mail, postar em todas as redes sociais e ainda confirmar por
telefone no dia. Apostar em apenas um meio de comunicação é muito arriscado.
Vai que o amigo é da TIM. As chances são grandes de acabar sozinho na mesa do
bar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Entretanto, depois de superados todos os desafios, depois de estarmos todos sentados numa mesa
agradável, com uma cerveja gelada na mão e um <i>full hand</i> na outra, todo o esforço parece valer a pena. Voltamos às
mesmas gargalhadas, ressuscitamos as antigas piadas, desenterramos os apelidos,
repetimos as mesmas ofensas inofensivas e naquela catarse feliz, onde o <i>bullying</i> rola solto para todos os lados, prometemos a nós mesmos que
precisamos repetir isso mais vezes, como nos velhos tempos. “Todas as quintas!”
– sugere um. “Melhor na quarta.” – retruca outro. “No próximo sábado, ou
domingo, sem falta.” – compromete-se a maioria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Mas vem a semana, e o trabalho, e os filhos, e o supermercado,
e o pneu furado, e o condomínio atrasado, e os compromissos, que passam como um
rolo compressor por cima de qualquer alma mais entusiasmada, e quando
finalmente chega o próximo sábado, ou domingo, a única que comparece ao
encontro é a preguiça. Essa rainha das invenções, muito solícita, não se importa em criar uma
desculpa diferente para cada um, todas rapidamente enviadas por mensagens de celular,
e-mails e avisos de redes sociais – invenções de autoria dela também, é claro. “Quem sabe no fim de semana que vem?” – insiste um mais otimista.
“Fechado!” – responde alguém, sem muito compromisso, sabendo que não será cobrado. Desligo a TV pelo controle
remoto, a obra-prima da preguiça, e penso comigo mesmo: melhor assim, o dia está
perfeito para dormir.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-X53apkQEBgs/UUff-n-sXjI/AAAAAAAAA30/hhpjtiHWUi8/s1600/queenart.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-X53apkQEBgs/UUff-n-sXjI/AAAAAAAAA30/hhpjtiHWUi8/s320/queenart.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-60405556735189485362013-02-04T18:20:00.001-02:002013-02-05T18:01:01.343-02:00O segundo<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b><span lang="PT-BR">Filho,</span></b><span lang="PT-BR"> </span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Está chegando o seu segundo aniversário. Dia 6. E como eu fiz no primeiro ano, quero deixar um registro para você. Será que um dia você será capaz de ler? Será que um dia você conseguirá entender algo disso tudo, compreender ao menos um pouco do que escrevo? Não sei.</span></span></span><br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">O que eu sei é que você – nossa família – está bem mais adiante do que imaginamos. E, ao mesmo tempo, bem atrás também. Não faz sentido, eu sei, mas é isso mesmo. A esperança nos puxa pra frente, a expectativa nos puxa para trás. A paciência nos faz andar, a ansiedade nos dá um tombo. É assim todos os dias, em todos os momentos com você. Na hora de comer, de brincar, de tentar ensinar algo de novo. Eu, sua mãe, o mundo, sempre querendo mais. E você exigindo calma. Impondo o seu ritmo. Decidindo por conta própria quando está pronto para aprender<span style="font-size: small;">.</span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Sabe, meu filho, quando você ainda morava dentro da barriga da sua mãe, eu tinha uma imagem, uma cena, que sempre voltava à minha mente. Eu imaginava você com cerca dois anos entrando no meu quarto logo de manhã. Você tinha os cabelos encaracolados, claros, como foram os meus, e vinha andando só de fralda, camiseta e chupeta, com cara de sono, até a porta do quarto. Não sei por quê, sonhei de olhos abertos com essa cena muitas e muitas vezes. Você ali parado, em pé, coçando os olhos de sono, me chamado pra brincar.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Errei o palpite. Seu cabelo é mais escuro, mais curto, mais liso. Você não dá muita bola para chupeta, faz meses que não pega numa. Dorme de calças. Não acorda muito cedo. E, principalmente, não vem andando para o meu quarto. A verdade é que você é um imprevisto, meu filho. Uma surpresa. E como num filme muito bom, com viradas inesperadas, cortou da edição a minha cena clichê.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">As imagens das nossas manhãs são outras. Às vezes, nos fins de semana, acordo mais tarde e encontro você ainda de pijamas no seu tatame da sala, explorando os seus brinquedos, geralmente com a língua, ou vendo TV. Quando chego perto, ganho um sorriso de olhos apertados e, na falta de um quimono para segurar, você me dá um agarrão na barba, às vezes complementado por uma babada em alguma área do rosto. Revido o golpe imediatamente. Ataco direto naquela área do pescoço logo abaixo da orelha, cafungando e fazendo cócegas, e você se encolhe dando risadas, puxando ainda mais a minha barba, mas resisto na minha posição, até vencer. É o nosso bom dia mais tradicional. Depois do embate, corro direto para a cafeteira. E você se volta novamente para o clipe infantil na televisão, concentrado mais na bolinha que pula por cima das letras do que nas imagens do vídeo.</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Outra cena clássica é buscá-lo no berço, após ser avisado por seus grunhidos de que você está acordado. Encontro você sentado, as pernas esticadas, tentando manter o equilíbrio, um exercício difícil por si só em qualquer momento do dia, ainda mais com sono. Seu corpo ainda não aprendeu o tradicional gesto de pedir colo, meu filho. Você não estica os braços quando nos vê, porque ainda precisa deles apoiados para ficar sentado. Porém, como sempre, inventou seu jeito de se fazer entender. Quando chego perto, recebo o infalível sorriso e, rapidamente, você eleva os braços só até a altura dos ombros, com os cotovelos encolhidos, perdendo completamente o sustento que mantém o seu tronco em pé. Em outras palavras, se eu não pegá-lo, ou você cai pra frente, ou cai para trás. É como um jogo da confiança matinal. E você confia.</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Mas a minha cena preferida é quando a sua mãe faz a gentileza de se levantar para buscá-lo no berço. Ela coloca você entre a gente na cama, pois às vezes o seu horário ainda é bastante cedo para adultos acima de dois anos. Sinto o seu corpo rolar até o meu, mas finjo que continuo dormindo. De olhos fechados, tomo um puxão na minha barba, um chute de calcanhar na barriga, seguido de outro nas costelas, outro ainda mais forte na barriga de novo e, em manhãs de azar, sou agraciado com um último chute nas partes baixas. Aguento firme. Por piedade, sua mãe puxa você para perto do corpo dela. Por algum tempo, você finge que desiste. Até que, de repente, tomo uma nova martelada de calcanhar, dessa vez no baço, ou no pâncreas, seguida por uma mão se enfiando no meu nariz, ou no ouvido, ou alguns dedos babados passando pelo meu rosto. Sei que não posso abrir os olhos, pois assim serei vencido. Sei que preciso aguentar em silêncio, senão será a minha derrota. Sofro mais uma coronhada de calcanhar na bacia. Outra na boca do estômago. E não consigo me segurar. Receio levar uma batida no rosto. Ou na nuca. Você está ficando incrivelmente forte. Melhor não arriscar. Então, após alguns minutos de inútil resistência, abro os olhos. Você arregala os seus e sorri – o seu golpe de mestre. Naquele instante, tenho a certeza de que fui rendido. Sei que terei que levantar e brincar, não importa que horas sejam. Lutei, mas perdi. Jogo a toalha. Não se<span style="font-size: small;">m</span> antes fazer uma boa dose de cócegas, pego você no colo e me encaminho para a sala. Coloco você no chão, ligo a TV e começo a distribuir os seus brinquedos em nossa volta. Ainda meio zonzo por causa do sono, deito numa almofada, assistindo você sacudir um chocalho, ou apertar um botão de um brinquedo com a cabeça, ou brincar com uma mola de caderno. E percebo que esta é exatamente a cena que eu sempre quis.</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Obrigado por me acordar para a vida, meu filho.</span></span></span><br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Parabéns pelos seus 2 anos. Que seja um ano muito feliz.</span><b><span lang="PT-BR"> </span></b></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b><span lang="PT-BR">Papai</span></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-As2JOS78UG4/URAX9NxZjYI/AAAAAAAAA0k/F97nU59zqv0/s1600/TomBolinhas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://4.bp.blogspot.com/-As2JOS78UG4/URAX9NxZjYI/AAAAAAAAA0k/F97nU59zqv0/s320/TomBolinhas.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com35tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-27384259451162716412013-01-21T23:54:00.003-02:002013-01-22T00:30:05.754-02:00Caça-palavras<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<o:shapedefaults v:ext="edit" spidmax="1026"/>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<o:shapelayout v:ext="edit">
<o:idmap v:ext="edit" data="1"/>
</o:shapelayout></xml><![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Outro dia estava escrevendo
um parágrafo sobre o brasileiro. E como se não tivesse um caminhão de coisas
para fazer, fiquei algum tempo pensando que havia algo de errado com aquela
palavra: brasileiro. O problema não são os nascidos no Brasil, longe disso. É o
“eiro” que soava estranho. Porque, em português, quando se quer indicar a
nacionalidade de uma pessoa, os sufixos mais comuns são “ano”, “eno”, “ino”,
como em angolano, chileno, argentino. Há ainda o “ês”, de chinês; o “ão”, de
afegão; o “ense”, de canadense”; e até o esquisito “ol”, de espanhol. Outros termos
mais específicos, como belga, austríaco e paraguaio, também aparecem de vez em
quando, porém com “eiro” até agora só encontrei sentidos que indicam um hábito
ou estilo de vida. Na nossa língua, “eiro” é mais um jeito de ser do que um país de origem. José
é pagodeiro. Miguel é baderneiro. Francisco é marinheiro. E sabe o Joaquim,
aquele navegante boa vida, que passava anos deste lado do oceano enchendo o
barco de pau-brasil, a pança de tapioca e a cama de índias? Era chamado de brasileiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Não sou sociólogo, nem
historiador, mas minha cabeça é afeita a este tipo de devaneio. O peso das
palavras. O que cada termo realmente quer dizer, e com qual intensidade. Esta é
uma ciência negligenciada na correria do dia-a-dia e até invisível aos ouvidos
menos atentos. Entretanto pode ser fatal no dizer, no sentir e principalmente
no escrever.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Há algumas semanas, em um
grande evento sobre os direitos das pessoas com deficiência, a presidente (este
texto não permite o “denta”) Dilma Rousseff cometeu a gafe de pronunciar em seu
discurso o obsoleto termo “portador” de deficiência. Recebeu em troca uma
enorme vaia do público presente, a quem tentava – sem sucesso – transmitir o
seu compromisso com a causa. Imagino o constrangimento da presidente e o
desespero do assistente que redigiu o texto. E o pior: deve ter sido aquele
desespero de quem não sabe qual foi o seu crime.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Para explicar de maneira
didática, a palavra “portador” é mais indicada para quem está carregando algo
portável, ou seja, algo que possa ser levado de um lado para o outro e que, pela
lógica, possa deixar de ser portado em algum momento. Um policial pode portar
uma arma durante o dia. E pode deixar de portá-la à noite. Um navio pode portar
um avião em alto mar. E depois deixar de portá-lo, quando a aeronave decolar.
Agora pense bem. Como uma pessoa pode portar uma deficiência, se no fim do dia
ela não pode se desfazer desta característica? A deficiência, seja ela qual
for, faz parte da pessoa. Não é algo que ela carrega de lá pra cá, como se
tivesse feito uma opção. Isto vale mesmo para deficiências com
chances de reversão, como um paraplégico que pode voltar a andar. Mesmo que recupere
os movimentos, a pessoa não portou nada durante tempo algum. São os mesmos
membros, antes paralisados, que agora voltaram a exercer suas funções motoras.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Em todos os casos, é mais
prático e certeiro usar o termo “deficiente”, com o simples e usual “ente”, tão
bem aceito em outras palavras, como inteligente, fluente ou paciente. Se por
acaso a palavra lhe parecer pesada ou depreciativa, tenha certeza que é efeito
da falta de uso, dos floreios eufemísticos ou de neologismos desnecessários da
nossa língua. Para não haver dúvidas, alguém sem uma perna é deficiente físico.
Alguém com diferenças cognitivas é deficiente intelectual. Cego é sinônimo de
deficiente visual. Surdo é o mesmo que deficiente auditivo. Alguém com mais de
um destes exemplos é deficiente múltiplo. E todos são pessoas com deficiência,
ou apenas deficientes, o que não os faz melhor ou pior do que ninguém,
simplesmente únicos, diferentes, com características específicas, como todo ser
humano. No Brasil, somam 45,6 milhões de pessoas. Quase ¼ da população.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">“Pessoa normal”, “retardado
mental”, “necessidade especial”. O dicionário polêmico sobre o assunto é
imenso. E nem sempre há consenso sobre quais os termos mais adequados. O que há,
como em qualquer outro assunto, é uma convenção estipulada com base no
pensamento vigente da época. Bobagem? Nem tanto. Leia uma revista feminina de
quarenta anos atrás. Leia uma notícia de jornal do início do século passado. Leia a bíblia.
Os tempos mudam e a linguagem muda junto. O que era permitido outro dia, hoje
pode ser inaceitável. O que todo mundo dizia ontem pode ser crime amanhã.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Sim, o politicamente correto
é chato e hipócrita. Não, as pessoas não deixarão de fazer piadas ou de dizer o
que quiserem. Porém, ter um parâmetro do que é culturalmente ético e do que é
legalmente proibido é fundamental para a nossa evolução, como indivíduos e como
nação. Conhecer e ter costume de usar os termos adequados é mandatório. Promover uma caçada às palavras que perderam o seu lugar na nossa linguagem é imporante. Assim o
pobre redator da gafe da Dilma ao menos sabe o erro que cometeu. Assim os
humoristas têm ao menos noção de quando estão infringindo uma lei. Assim você
pode escolher as suas palavras de forma consciente, o que ajuda muito em todas
as situações, seja para discutir o relacionamento, seja para sustentar uma tese
de mestrado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Ontem almocei com familiares
que voltavam de férias no nordeste. Um deles me contou que foi ao banheiro em
um bar de praia e, quando chegou lá, foi surpreendido pelo que viu. Na porta do
feminino estava escrito “buceta”, “periquita”, “perseguida”, “caverna”, “xana”
e mais dezenas de nomes para “vagina”. Na porta do masculino, tinha “piroca”, “cacete”,
“pinto”, “bilau”, “jeba” e outros incontáveis termos populares para “pênis”. É
uma pena que ele não tirou uma foto. Teria sido a imagem deste texto. Porque
prova que nós brasileiros, quando temos interesse por um assunto, não temos deficiência
alguma de vocabulário. E que sempre encontramos a palavra certa a dizer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3Tfgfi-Th7E/UP3xUjIeLnI/AAAAAAAAA0Q/W64qjWjVHBw/s1600/cacapalavras.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-3Tfgfi-Th7E/UP3xUjIeLnI/AAAAAAAAA0Q/W64qjWjVHBw/s1600/cacapalavras.gif" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-70016806247480867562013-01-08T01:27:00.000-02:002013-01-08T11:27:43.308-02:00Don e Lya<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-FS5TJ72Sawo/UOuNYj2WVFI/AAAAAAAAAzs/AThvKeC4-d4/s1600/Don-Draper.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="235" src="http://1.bp.blogspot.com/-FS5TJ72Sawo/UOuNYj2WVFI/AAAAAAAAAzs/AThvKeC4-d4/s400/Don-Draper.gif" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><b><i>“As pessoas têm um desespero tão grande para que alguém diga a elas o que
fazer, que elas aceitarão qualquer coisa.”</i></b> - Don Draper, publicitário</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Don Draper foi um dos profissionais de propaganda mais bem
sucedidos na Nova Iorque dos anos 60. Inteligente, criativo e extremamente
observador, criou slogans históricos como o <i>“It’s
toasted!”</i>, dos cigarros Lucky Strike, quando a indústria de tabaco não
tinha mais nada a dizer para diferenciar uma marca da outra. Quem fumaria um
cigarro cujo único apelo é ser tostado? – perguntariam os mais céticos. Quem
usaria uma marca cujo maior argumento é <i>“Just
do it”</i>? – pergunto eu a você.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Infelizmente Don Draper, por mais genial que tenha sido, é apenas
um personagem de uma série americana de televisão chamada <i>Mad Men</i>. Homem fictício, porém sábio. Entendeu rapidamente que a
maioria das pessoas deseja ser comandada, em vez de comandar. Deseja seguir, em
vez de liderar. Deseja ser informada, por alguém confiável – muitas vezes pelo
simples fato de ser famoso –, sobre o que é bonito e o que é feio. Sobre o que
é <i>in</i> e o que é <i>out</i>. Sobre o que é mais inteligente. Sobre o que é mais moderno.
Sobre o que é mais elegante. E principalmente sobre o que é correto e o que é
errado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">É por isso que nós publicitários utilizamos a figura da Ana
Maria Braga para anunciar as ofertas do <i>Carrefour</i>, embora a apresentadora provavelmente
não faça suas compras lá, nem tenha ideia do preço do quilo da cebola.
É por isso que um político pouco conhecido sempre anda de braços dados com
outro já bastante popular, numa manobra antiga, porém eficiente, para herdar a
confiança da população, mesmo sem ter experiência, plano de governo ou
capacidade para a gestão pública. É por isso que jornais e revistas convidam
para colunistas pessoas cujas ideias já conquistaram um público cativo e cujo
nome já seja associado ao pretensioso termo <i>formador
de opinião</i>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Que me desculpem as ovelhas que confiam cegamente no
julgamento de padres, professores, médicos, jornalistas. Que me preguem numa
cruz os fervorosos admiradores de Arnaldo Jabor, José Dirceu, Glória Kalil ou
de qualquer outra pessoa que expresse um ponto de vista – sempre pessoal, é
importante ressaltar – sobre qualquer assunto. Na minha humilde opinião, todo
indivíduo deve ser formador de opinião. Com base em muita informação e em seus
valores pessoais, todo ser humano deve tomar posse do direito de formar a sua própria opinião.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Na última semana estourou na internet uma polêmica sobre a
coluna de Lya Luft, "O <span style="font-size: small;">a</span>no das <span style="font-size: small;">c</span>riancinhas <span style="font-size: small;">m</span>ortas", publicada na revista Veja, edição de 31 de dezembro de 2012. A
escritora, espantada e revoltada com um novo massacre<span style="font-size: small;"> </span>ocorrido em uma
escola dos Estados Unidos, fez uma ressalva de que não poderia falar com
propriedade sobre o assunto (alguém pode?), mas mesmo assim, decidiu emitir seu
ponto de vista, pois há temas sobre os quais não se pode calar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">De maneira sucinta, Lya construiu o raciocínio de que crimes
de tal desumanidade só poderiam ser cometidos por doentes mentais. E fez uma
ligação perigosa entre tais crimes e a inclusão escolar de pessoas com
deficiência intelectual. Confundiu deficiência com doença. E expressou a opinião
de que a inclusão, forçada, gera uma necessidade de adaptação que pode estar
acima dos limites das pessoas com deficiência e que pode torná-las infelizes e perigosas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Como pai de uma criança especial, entendo o que a autora
quis dizer. Consigo imaginar crianças com deficiência sendo alvo de piadas e
brincadeiras de mau gosto nas escolas. É inevitável. E não acho que ser a
chacota da sala ajude ninguém a se desenvolver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Por outro lado, se a inclusão for efetiva, consigo imaginar
turmas verdadeiramente heterogêneas, em que os alunos possam conviver com as
diferenças e aprender a respeitá-las, não só no ambiente escolar, mas na vida.
Consigo imaginar escolas com estrutura múltipla e com métodos de ensino mais
abrangentes, mais focados no potencial de cada um, menos embasados em cartilhas. Tenho
certeza de que será um desafio ensinar matemática para crianças com
ritmos e capacidades diferentes de aprendizado, mas, se paramos para pensar, este desafio já
existe mesmo sem a inclusão de crianças com deficiência intelectual nas
escolas regulares de hoje em dia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Entendo que meu filho não tenha a mesma condição de
acompanhar o conteúdo programático utilizado atualmente pelo sistema escolar,
mas não vejo por que ele deva estar separado na hora do lanche, na hora das
brincadeiras, na hora de assistir a um filme, na aula de música, de pintura, na
hora de esperar os pais na saída. Não aceito que as escolas possam se isentar
da responsabilidade de ajudá-lo a aprender, sendo que a educação é um direito garantido
por lei a toda criança, seja deficiente ou não. E mais: a convivência com as
diferenças é benéfica para todos, tanto para alunos com deficiência física,
intelectual ou múltipla, quanto para estudantes sem estas condições,
professores e pais. Torna-nos mais humanos, mais tolerantes, mais pacíficos e
mais preparados para a vida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O tropeço de Lya Luft foi escrever uma opinião antipopular e
pouco fundamentada, sobre um assunto delicado e complexo, em uma publicação de enorme
abrangência. Para mim, isto não invalida a credibilidade da autora. É humana,
como todos nós, passível a erros e capaz de admiti-los e consertá-los. A polêmica é até
proveitosa, pois leva o assunto a pessoas que dificilmente seriam alcançadas se
o texto não tivesse gerado controvérsias. Ouso apenas sugerir que você não siga
irrestritamente a opinião de ninguém: nem de Lya Luft, nem dos que a estão
apedrejando. Construa a sua. É mais seguro. Senão daqui a pouco Don Draper convoca a escritora pra falar do irresistível sabor da nova Doriana. E você fará o que ela
mandar, sem nem perceber.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Caso queira ler o texto de Lya Luft e algumas das réplicas
geradas, o site <b>Inclusive </b>fez um ótimo apanhado. <a href="http://www.inclusive.org.br/?p=23982">Confira aqui.</a></span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-9866426512215024792012-12-31T13:20:00.000-02:002012-12-31T13:36:36.150-02:00Acho que cabe uma jubarte<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Medidas não passam de pontos de referência mentais.
Parâmetros comparativos e relativos, que mudam conforme o tempo e o espaço. Quantos
calendários já existiram na história? Quantos valores já definiram o alto e o
baixo, o rápido e o lento, o rico e o pobre? Quantos números de sapato você
calça ao redor do mundo, nos mais diferentes países? E um dos efeitos mais
interessantes da abstração e da relatividade dos sistemas de medição: quantas
vezes retornamos a um lugar em que vivemos na infância e nos impressionamos com
o fato de ele hoje parecer bem menor do que lembrávamos? A realidade é a mesma.
Então, o que mudou? A perspectiva do corpo? Provavelmente não. Pois mesmo se
agacharmos e ficarmos na exata altura que tínhamos quando crianças, o lugar
continua diferente. E pequeno. O que mudou a medida da sala, dos quartos, dos
móveis, das coisas, foi o tempo, culpado por transformar e ampliar as nossas
referências mentais dia após dia. Antes, ali era o nosso mundo. Hoje é uma
simples casa, grande no coração, pequena no mundo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Há algum tempo, quando soube que seria pai, decidi comprar
um veículo um pouco maior, para poder carregar carrinho, bolsa, brinquedos,
babá e toda a bagagem que nasce junto com uma criança. Acostumado a dirigir uma
lata de sardinhas, acabei adquirindo um carro médio para os padrões
brasileiros, porém um transatlântico para as minhas referências mentais. Meu
afilhado, que àquela época tinha pouco mais de cinco anos, e estava se
especializando de forma sistemática em espécies gigantes do mundo animal, manteve
o tema aquático e fez um diagnóstico bastante pertinente do espaço no banco de
trás. “Acho que cabe uma jubarte.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Apesar de não existir uma medida confiável para o tamanho de
um texto – já que poucas palavras muitas vezes se tornam poemas grandiosos e que
alguns livros imensos (os bons) são devorados sem que se perceba o passar do
tempo – admito que esta crônica, se continuar divagando sobre as inúmeras métricas
existentes no mundo exterior e interior, acabará ficando extensa demais, mesmo
para o leitor mais persistente. Do jeito que as coisas vão, chegará o ano que
vem, mas não terei chegado ao ponto central da discussão. Por isso, sem mais
delongas, coloco na mesa o verdadeiro motivo da minha reflexão: qual a medida
exata de um ano?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Se fossem apenas os 365 dias, 5 horas, 49 minutos
e 12 segundos defendidos pela ciência atual, por que alguns anos parecem
rápidos e outros morosos? Se todos os anos duram o mesmo tempo, por que alguns
parecem grandes e outros pequenos? Por que alguns anos, mesmo depois de
terminados, se estendem para toda a vida? E por que outros passam completamente
despercebidos? Porque a medida de um ano não é feita pelos meses, nem pelos
dias, nem pelas horas. É feita por espaços na nossa memória. De quantos espaços
aquele ano conseguiu preencher.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Este foi o ano em que vi meu filho passar por uma cirurgia mais
complicada do que o previsto e que experimentei o que é deixar o meu bem mais
valioso nas mãos de outra pessoa. Foi o ano em que, numa internação hospitalar
seguinte, o vi sair da sala de cirurgia com um acesso venoso instalado no meio
pescoço, sem autorização prévia, e que senti a raiva de ter confiado na pessoa
errada: uma lição para a vida. Foi o ano em que conheci cinco países em uma
única e inesquecível viagem ao lado da minha mãe. Foi o ano em que mudei para o
meu primeiro apartamento próprio, planejado do jeito que minha mulher e eu
queríamos, uma realização que me trouxe – traz diariamente – muito mais alegria
do que jamais imaginei.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Porém, o acontecimento do ano que provavelmente terá o maior
impacto na minha vida chegou de mansinho, quase no fechar do ano, sem
alarde, e, aos olhos menos atentos, é difícil de perceber. A verdade é que o
Antonio começou a engatinhar. Do jeito dele, é claro. Tecnicamente, diz-se
“engatinhar em bloco”. Isto significa que ele fica de quatro, avança com um
braço, depois avança com o outro e, em seguida, puxa os dois joelhos para
frente ao mesmo tempo, em bloco, como se fosse um sapo. Acontece apenas uma ou
duas vezes ao dia, por distâncias muito, muito curtas, e por motivos muito,
muito específicos. Nesta semana, o vimos engatinhar algumas vezes apenas para
pegar o brinquedo preferido e para alcançar – e tentar lamber – as rodas
imundas de um dos seus carrinhos de passeio. Chega a dar uma pena de tirar o
carrinho de perto dele após tanto esforço. E fica um medo de desestimulá-lo a
continuar tentando se mover. Mas enquanto ele não descobre outro atrativo que
valha a pena, vamos deixando o carrinho de isca. Um dia ele morde aquela roda.
Secretamente, parte de mim deseja ver isto acontecer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Os dois últimos anos certamente estarão para sempre entre os
maiores da minha vida. Fizeram experiências anteriores parecerem um pouco
menores, como as casas em que vivemos na infância. Mudaram drasticamente as minhas
referências mentais para o que é importante. Alteraram as minhas medidas para o
que é ter sucesso na vida. E ao pensar sobre todas as conquistas realizadas
nestes últimos dois anos, como acordar na casa nova, ou ver o Antonio se
arrastar de um lado para o outro, meu peito se enche de orgulho e felicidade. Fica
imenso de satisfação. Grande mesmo. Se medir por dentro, acho que cabe uma
jubarte.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-NTadom6dxJM/UOGsPj0ZR2I/AAAAAAAAAzY/CCUgLiz3znw/s1600/jubarte1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="218" src="http://1.bp.blogspot.com/-NTadom6dxJM/UOGsPj0ZR2I/AAAAAAAAAzY/CCUgLiz3znw/s320/jubarte1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Feliz 2013.</span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-87524333599225567302012-12-24T19:19:00.003-02:002012-12-24T20:40:27.712-02:00A árvore<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Foi o menos tradicional dos presentes de Natal. Não se
compra em loja, não se encontra em shopping, não se concorre a prêmios com a
nota fiscal. Discreto por natureza, não veio com um grande laçarote, como viria
um carro zero quilômetro, um filhote de cachorro, ou outro desses presentes que
gostam de causar impacto. Não vale fortuna. Não tem marca. Não cabe em nenhum
embrulho. O presente que ganhamos da minha mãe foi uma pequena árvore. Não uma
árvore de Natal, uma planta mesmo, para colocar na varanda. Batizamos de
“Matinho da Vila”. E desde que chegou, a casa nunca mais foi igual.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Matinho da Vila é um bambu-mossô, espécie de planta da qual
eu nunca tinha ouvido falar. Verde, torto, cheio de folhas, pela cara se vê que
é japonês, chinês ou qualquer outro “ês” de olho puxado, e que deve ter nascido
no meio de um jardim zen com propriedades místicas e transcendentais. Curioso a
respeito do novo habitante da minha casa, fui então consultar a enciclopédia
dos ansiosos, a <i>internet</i>, e me dei
por satisfeito com uma pesquisa pouco acadêmica em três <i>sites</i> de credibilidade não verificada. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O primeiro <i>site</i> apresentava
a versão sustentável, porém um tanto estranha, do novo ser que divide a varanda
comigo. Feito com restos de um bambu morto, a planta fica no meio do caminho
entre natural e artificial, criando um efeito estético bastante similar ao
exemplar vivo, porém sem precisar de luz do sol, podas ou regas. Prático, mas mórbido.
Para o mundo verde, a fábrica deve parecer um Madame Tussauds do mal. É como
fazer uma estátua com os próprios ossos do defunto. E que me desculpem os donos
de loja de shopping e de escritórios, mas se não quer regar, não pode ter
planta. Ou então tem que comprar um cacto. Por precaução, não mencionei nada a
respeito da minha descoberta em locais perto da varanda. Vai que Matinho da
Vila resolve parar de fazer a fotossíntese, em protesto. O suicídio
de uma árvore daquelas seria uma grande perda, não só para a natureza, mas
principalmente para os meus domingos na rede. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O segundo <i>site</i>
trouxe informações igualmente preocupantes. Pois saibam vocês que o bambu-mossô,
o último dos românticos, que floresce somente uma vez a cada 67 anos e que,
depois de florescer, geralmente morre por ter gastado toda a sua energia na
reprodução (discípulos de Wando, façam reverência), não é naturalmente torto. Isso
mesmo. Em outras palavras, se o seu bambu-mossô tem o caule torto, foi torcido
por mãos humanas, em um processo de realizado logo nos seus primeiros anos de
vida, para que fique mais bonito. De fato, fica legal, mas tenho certeza que
Matinho da Vila não optaria por tão dolorosa cirurgia estética nem mesmo que
fosse feita por Ivo Pitangui. Agora o mal está feito. Como disse o É o Tchan,
“pau que nasce torto nunca se endireita”. Mas Matinho da Vila nasceu reto, que
fique registrado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O terceiro <i>site</i>,
este sim, finalmente atendeu às minhas expectativas. Com um visual
absolutamente constrangedor de coisas esotéricas, trazia uma matéria sobre o
significado das plantas. E sem as divagações típicas destes textos de pouco
conteúdo, dizia que a espécie bambu-mossô é “ótima para aquietar a mente”. E
isso eu posso atestar. Não tem uma tarde que o Antonio não capota na rede logo
embaixo da árvore. Não tem uma noite que eu não queira simplesmente ficar ali,
admirando a vista, vendo o tempo passar. Não tem um dia que não eu pense: não
vou fechar esta varanda. Finjo que é pela vista, que quase não há. Finjo que é
pelo vento, que entraria de qualquer forma. Mas sei que é para ter um simulacro
de quintal no apartamento. Um lugar tranquilo, com uma árvore e uma rede, para
não se fazer nada. Só para parar e respirar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Obrigado, mãe, pelo menos tradicional dos presentes de
Natal. Matinho da Vila nos faz muito boa companhia. Escuta em silêncio. Faz
barulhos com o vento. Às vezes parece que sorri. Só falta cantar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-KZNKGu3Dke0/UNjG2e53TQI/AAAAAAAAAzE/TJ7qurdkSRE/s1600/bambu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-KZNKGu3Dke0/UNjG2e53TQI/AAAAAAAAAzE/TJ7qurdkSRE/s1600/bambu.jpg" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><b><br /></b></span>
<br />
<span style="font-size: small;">Feliz Natal a todos.</span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-43674785047828385742012-12-18T22:21:00.002-02:002012-12-18T22:21:38.977-02:00PromessaNa próxima segunda, dia 24 de dezembro, o blog volta a ativa. Presente de Natal para quem ainda acredita: em mim e no Papai Noel.Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-49512881006581698502012-11-13T11:48:00.002-02:002012-11-13T11:49:52.934-02:00Caixas de fósforos<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Em novembro do ano passado, escrevi um texto sobre a chegada
antecipada do natal, o consumismo exagerado e os brinquedos que
realmente marcaram a minha infância. Entre eles, estavam as caixas de
fósforos que minha avó de Porto Alegre guardava para os netos montarem
trens, cidades e o que mais pudessem imaginar. Passei anos brincando com
essas caixas.</span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Ao ler o texto, emocionada, minha
querida avó imediamente recomeçou a colecionar caixas de fósforos, para
quando os bisnetos fossem visitá-la, inclusive o Tom Tom.</span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Coincidentemente,
cerca de um ano depois da publicação do texto tenho a primeira
oportunidade de levar o Antonio ao Rio Grande do Sul, junto com meus
sobrinhos, primos dele, para visitar a bisa. Estavam lá não só as caixas
de fósforos, como outros diversos brinquedos antigos que acompanharam a
nossa família por quatro gerações.</span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">No mesmo lugar que me divertia na infância, vi meu filho e meus sobrinhos repetirem a farra que meus primos e eu vivíamos há 20 anos. Pude sentir toda a alegria da minha avó. Pude entender porque recordo com tanta saudade daqueles tempos. Fiquei imensamente satisfeito por ter atravessado metade do país neste final de semana. Os olhos do Antonio e dos meus sobrinhos naquele dia disseram tudo. Felicidade é coisa simples. E relativamente fácil de encontrar.</span></span><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-JnTKdTYPNek/UKJL2ZhM61I/AAAAAAAAAys/pwoIzrrRehw/s1600/IMG_7045.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://1.bp.blogspot.com/-JnTKdTYPNek/UKJL2ZhM61I/AAAAAAAAAys/pwoIzrrRehw/s400/IMG_7045.JPG" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Se quiser ler o texto do ano passado, clique aqui: </span></div>
<span style="font-size: small;"><a href="http://www.flizam.com/2011/11/toys-r-us.html" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Toys R Us</a></span>Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-43917695965261383302012-11-06T12:34:00.002-02:002012-11-06T12:34:58.212-02:00Prefiro Crocs
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Courier New";
panose-1:2 7 3 9 2 2 5 2 4 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073711037 9 0 511 0;}
@font-face
{font-family:Wingdings;
panose-1:5 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:2;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 268435456 0 0 -2147483648 0;}
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:2038890873;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-1568923498 906031096 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693 67698689 67698691 67698693;}
@list l0:level1
{mso-level-start-at:0;
mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:–;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Cambria;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
ol
{margin-bottom:0cm;}
ul
{margin-bottom:0cm;}
--></style><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Contou-me a
babá:</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Meu
sobrinho Felipe, de 5 anos, estava assistindo a uma partida de tênis na beira
de uma quadra. Uma pessoa se aproximou e perguntou:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Você
gosta de tênis, Lipe?</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Não.
Prefiro Crocs.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-H2WvQZcC0Ew/UJkc5WW1gJI/AAAAAAAAAyY/_gEGGUIWiZI/s1600/Crocs.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-H2WvQZcC0Ew/UJkc5WW1gJI/AAAAAAAAAyY/_gEGGUIWiZI/s200/Crocs.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Minha
sobrinha Maria Eduarda, de 6 anos, cheg<span style="font-size: small;">ando</span> de viagem à Disney. </span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Eu:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Eu
deixei você viajar com a minha mulher durante uma semana inteira e você não me
tr<span style="font-size: small;">ou<span style="font-size: small;">xe</span></span> nem um presente?</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Ela:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Eu
trouxe a sua mulher de volta de presente.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Brincando
com meus três sobrinhos, Dudu, Felipe e Henrique, irmãos de 7, 5 e 2 anos,
respectivamente.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Quantos
anos você tem, Dudu?</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Sete.</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">E
você, Felipe?</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Cinco.</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">E
você, Henrique?</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">...
Não xei.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Maria
Eduarda vai ao aniversário de um dos meus sobrinhos. Brinca e se diverte a
tarde inteira. Ao final do dia, minha irmã diz:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Maria
Eduarda, você tem que nos visitar mais vezes!</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Ela:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Tá
bom. Eu posso sábados e domingos.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Há algum
tempo.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Dudu:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Dindo,
brinca com a gente.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Lipe:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Dindo,
eu quero ser do seu time.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Isabela,
prima deles:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Tio
Fábio, posso te chamar de Dindo também?</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Maria Eduarda
conversando com uma amiga depois de visitar a obra da minha futura casa.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> <span style="font-size: small;"></span></span></span></span><span lang="PT-BR">O
apartamento novo da Ana é lindo. E quando tiver as coisas dentro, vai ficar
mais lindo ainda.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Há bastante
tempo.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Dudu:</span></span></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Dindo,
lê esse livro para mim enquanto eu faço cocô.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Começo a
ler. Lá pela terceira, quarta página, ele diz, fazendo força:</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><span>–<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span></span></span><span lang="PT-BR">Dindo,
vai mais rápido que eu já tô quase acabando.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">*</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Moral da
história:</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Entendo
quem não queira ter filhos, mas nunca vou compreender quem diz que não gosta de
criança.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Nunca.</span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-15704128894516776422012-10-30T13:51:00.000-02:002012-10-30T14:52:56.111-02:00Mudança<div class="separator" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-ShKDpSd0vas/UI_3CK0g_0I/AAAAAAAAAyE/7vdIGLYFn5s/s1600/holding.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="236" src="http://2.bp.blogspot.com/-ShKDpSd0vas/UI_3CK0g_0I/AAAAAAAAAyE/7vdIGLYFn5s/s320/holding.jpg" width="320" /></a></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Estou de mudança. Literalmente. Caixas, caminhão e centenas de ligações
para acionar o gás, a luz, o telefone, a internet, a TV por assinatura. Os
próximos dias são de transição. Fico com duas casas e, ao mesmo tempo, meio sem
lar. As roupas estão em um endereço, os controles remotos já estão em outro. O filho
está em um terceiro, a casa da avó. A mulher, merecidamente, viajando de férias
com as parentas. Sozinho, vou escrevendo as últimas linhas de uma história que
foi muito mais intensa do que imaginei: a história da casa em que a Ana e eu iniciamos
a nossa família. O lugar em que geramos uma vida, sem saber que na verdade
estávamos gerando a virada das nossas próprias vidas.</span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Há alguns dias li na internet uma carta que teve enorme repercussão. Foi
escrita por John Franklin Stephens, um norte-americano com síndrome de Down, em
resposta à atitude de Ann Coulter, uma partidária republicana, que havia se
referido ao democrata Barack Obama como “retardado” em uma rede social. Com
extrema elegância, o autor da carta disserta sobre a inadequação do termo, não
apenas para definir o político em questão, mas também para se referir a
qualquer pessoa. E conclui com um convite absolutamente gentil para que a
agressora visite e conheça o time de atletas especiais do qual ele, Stephens,
faz parte. “Veja se você consegue sair com o seu coração inalterado”, desafia o
rapaz.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Talvez ele não tenha sucesso com Ann Coulter, porém sem dúvida já
amoleceu milhares de outros corações. A carta é bem escrita, contém uma ironia
inteligente e seria admirável mesmo que o autor não tivesse deficiência alguma.
Disfarçada de discussão sobre o uso da palavra “retardado”, a carta é um
manifesto em favor do respeito às pessoas, de forma plena e universal, seja
político, seja negro, seja deficiente físico ou intelectual.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Li, gostei, espalhei e achei que a carta seria tema único do post.
Porém, para minha surpresa, a semana ainda me reservava mais um divertido
ataque a diversos preconceitos, em especial o preconceito contra pessoas com deficiências
físicas. Por um milagre da minha circunstancial vida de “pãe” e mestre-de-obras,
arranjei um jeito de ir ao cinema e ver “Intocáveis”, filme que tanto me
recomendavam. A esta altura, acredito ser o último terráqueo a conhecer a
história do imigrante pobre e negro que se tornou cuidador de um homem rico e
tetraplégico, e o faz da maneira menos convencional possível. E, como muitos
haviam me prometido, saí do cinema com um sorriso por dentro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Para mim, o especial da história é o jovem não fingir que não vê. Ele se
recusa a respeitar os códigos sociais hipócritas, os quais não sei se
desvaloriza ou se simplesmente não compreende. Quando vê algo diferente, como
um homem sem os movimentos, ou uma mulher muito bonita ou uma pintura ridícula
que vale 30 mil euros, o rapaz arregala os olhos, faz perguntas e,
diferentemente da maioria, verbaliza a sua opinião mais sincera sobre o
assunto. Ri do que é ridículo, lamenta o que é triste e toca a vida sem se
fazer de vítima, sem ter pena de si, nem dos outros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Quando
algo triste e inesperado acontece, é quase impossível não sentir
pena de quem sofreu o baque. É difícil olhar para uma deficiência
causada por
um acidente, por exemplo, sem refletir sobre o sofrimento daquela
pessoa, ou
sem se deixar abater pelas dificuldades daquela nova situação. Acidentes
com sequelas, síndromes genéticas, doenças terminais, deficiências
físicas ou intelectuais são sim assuntos muito complexos de absorver,
especialmente para quem nunca os teve por perto. Em um primeiro momento,
a pena
é um sentimento involuntário e natural. E não devemos nos culpar por
tê-la.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O problema é que a pena é como uma catarata nos olhos: com o tempo, vai
cegando. Quando persistente, a pena se disfarça de sentimentos como ternura e
compreensão, mas na verdade é indício de preconceito e não-aceitação. Alimentar
a pena é acorrentar o sujeito ao estigma do coitado e eternizá-lo na posição de
“café-com-leite” da vida. Ter pena é pensar que os outros não poderão mais
correr, casar, comer, viajar, transar, dançar, rir, chorar, trabalhar. Ter pena
é acreditar que após uma adversidade é impossível ser feliz.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Quando estou com o Antonio nas ruas, recebo muitos sorrisos bondosos. As
crianças, por outro lado, arregalam os olhos, franzem a testa, fazem caretas, às
vezes voltam alguns passos para olhar mais de perto para o rosto do meu filho.
É claro que isto me agride por dentro, mas compreendo. O Antonio chama atenção.
É natural que os pequenos o explorem. O que me incomoda, entretanto, é a reação
de alguns pais, quando percebem que meu filho é especial. Muitas vezes, por um
reflexo automático, esforçando-se para manter o sorriso no rosto, puxam de leve
os seus próprios filhos pelos braços, afastando-os do Antonio, interrompendo
qualquer possibilidade de interação. (Daí, pela minha interpretação, a total
adequação do título do filme “Intocáveis” – a primeira ação que o
preconceito elimina é o toque.)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Porém, aos poucos, espalhando informação, aprimorando a minha reação,
vejo o cenário em minha volta mudar. Sinto amigos, familiares e conhecidos
seguros ao interagirem comigo, com a Ana e principalmente com o Antonio. Vejo
desconhecidos mais confortáveis em perguntar o que ele tem, e agir naturalmente
após uma ou duas respostas básicas. Empacotando nossos pertences para levar à
casa nova, vou relembrando o quanto cresci – o quanto crescemos – com a chegada
do Tom, e como as coisas se acalmaram desde então. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O
pai sofrido que fui há
alguns meses ficará nesta casa antiga, junto com outras lembranças, pois
já não
existe mais. O que minha família passou deixou sequelas, formou
cicatriz, mas nos
transformou em pessoas mais capazes de lidar com os desafios da vida,
que são
muitos. E percebo que, assim como o garoto com síndrome de Down que
escreveu a carta, assim
como cuidador marroquino e o deficiente francês que inspiraram o roteiro
de "Intocáveis", assim como o meu filho Antonio, cada vez mais pessoas
estão quebrando
preconceitos<span style="font-size: small;"> e <span style="font-size: small;">tr<span style="font-size: small;">ansforma<span style="font-size: small;">ndo </span></span></span>as pessoas em seu redor</span></span><span style="font-size: small;">. <span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">Pode so</span>ar ingênuo, pode soar demasiado esperançoso, mas acho que o mundo também está de mudança.
Para melhor.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><a href="http://specialolympicsblog.wordpress.com/2012/10/23/an-open-letter-to-ann-coulter/">Clique para ler a carta de John Stephens.</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><br /><a href="https://www.youtube.com/watch?v=FpwuGtn8aGA&noredirect=1">Clique para ver o trailer de "Intocáveis".</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-11142463384357020642012-10-08T19:27:00.001-03:002012-10-09T10:24:17.518-03:00(des) Culpa<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Prólogo</b></span></span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Inspirado pelo clima de eleições políticas, na semana passada prometi
que até sexta-feira escreveria algo, não cumpri, mas vou deixar por isto mesmo,
na esperança de que meu eleitorado em breve se esqueça, ou que tenha preguiça
de reclamar seus direitos, por ter coisas mais importantes a fazer, como, por
exemplo, assistir à derrocada da Carminha em Avenida Brasil.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Sim, apesar do tom frio e do olhar sereno, é claro que sinto algum peso
na consciência por este desvio de caráter, como sentem, sem dúvida, os
políticos que prometem o éden na campanha e fazem o indizível depois de eleitos.
Acredito até que eles só conseguem dormir porque a recompensa de fazer o
indizível no poder público inclui, entre outros prêmios, a possibilidade de
adquirir imóveis espetaculares à vista, a habilidade de conquistar mulheres 20
anos mais novas e a certeza de desfrutar da companhia delas em seus lençois de
algodão egípcio 1500 fios. Exceto o tamanho do imóvel, a diferença de idade da
mulher e a qualidade da roupa de cama, estou no mesmo ponto que eles: certo de
estar errado, fico somente esperando a culpa passar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O pior é que a culpa passa. E as pessoas esquecem. E o tempo apaga. Ou
distorce. Esta é a minha esperança. Tomara que os leitores deste blog esqueçam
a segunda passada, “a segunda em branco”, e que me reelejam, já nesta semana,
como alguém merecedor de sua atenção. Afinal, em time que está ganhando não se
mexe. E tem muita promessa vazia por aí ganhando eleição.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Sigamos ao texto da semana de fato. Se não nas urnas, ao menos aqui, chega
de embromação.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">*</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Texto de fato</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Há
algum tempo eu cultivava o hábito de dizer que tinha nascido uns vinte, trinta
anos atrasado. Argumentava que o tempo andava rápido demais para mim. Dizia que
gostaria de ter trabalhado no tempo da máquina de escrever, das cópias em papel
carbono e das mensagens por carta, que demoravam para chegar. É claro que uso
internet, avião, celular. Mas a voz que habita a minha cabeça – aquela que a
gente escuta quando lê um livro, aquela que fala as verdades que não saem da
boca – volta e meia repete que eu viveria melhor se o mundo girasse um pouco
mais devagar.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">É
estranho viver na contramão da própria geração. Estou sempre rodeado de gente
pré-adaptada à próxima invenção, seja inovação tecnológica, seja descoberta
científica, seja o que for. Enquanto eu, olhando para o teto do meu quarto sem
TV, sorrio com o canto da boca ao imaginar uma biblioteca de madeira, cheia de
livros de papel, e muitas tardes à toa, para aproveitá-la. </span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-AAYc5MKnuGM/UHNSUlKapHI/AAAAAAAAAww/gGiAlJrXFLk/s1600/biblioesta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="209" src="http://2.bp.blogspot.com/-AAYc5MKnuGM/UHNSUlKapHI/AAAAAAAAAww/gGiAlJrXFLk/s320/biblioesta.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Assim está bom</td></tr>
</tbody></table>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Ainda no campo da
diversão, ignoro solenemente qualquer tipo de vídeo game; assim como a minha
avó, prefiro um carteado. Meu computador não é de última geração e serve
somente para eu escrever e me comunicar, não mais do que um papel em branco, ou um
telefone bem equipado. Até aproveito os recursos dos dias atuais, mas a minha
alma se sente residente de outro tempo. Não sei exatamente qual, mas sei que é no passado.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Como diz um ditado popular, é preciso ter
cuidado com o que se deseja. Eu e minha vontade de arrastar os dias fomos
ouvidos e premiados. Tive um filho há quase dois anos e ele se comporta como se tivesse apenas seis meses de idade. Recém aprendeu a sentar, há pouco começou a me
reconhecer, posso até imaginar Deus (ou a natureza, ou seja lá quem fabrica a
vida) satisfeito consigo mesmo: <i>“Este foi
feito sob medida. Este saiu exatamente como o encomendado.”</i></span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">E cá estou eu, vivendo um paradoxo existencial.
Ansiei por um ritmo mais lento em tudo na vida; e agora, que meu filho atende
este desejo ao extremo, sinto-me absolutamente angustiado.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Não é culpa do Antonio, é preciso dizer. A seu
tempo, ele tem feito progressos imensos. Come bem, dorme com regularidade,
cresce e engorda dentro da média das crianças e bem acima das expectativas
médicas. </span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Em termos de desenvolvimento motor, a todo tempo faz um imenso esforço
para equilibrar a cabeça, ou para alinhar o tronco quando se senta; tenta ficar
sem as mãos apoiadas no chão; estica-se para pegar os brinquedos; recoloca-se
incessantemente na “posição do gato”, de quatro, mesmo sem ainda conseguir
mover as mãos ou as pernas para engatinhar; tem cada vez mais levado os brinquedos à boca para explorá-los;
mesmo que involuntariamente e sem razão específica, bate palminhas; firma as
pernas quando o colocamos em pé; bate as mãos na água; aceita todo tipo de
papinhas e dá sinais de que algum dia poderá conseguir mastigar a comida. </span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">No
desenvolvimento cognitivo, o Antonio vai mais devagar, mas também evolui. Aos
poucos, ele tem entendido o que é “ir para o banho”; já olha discretamente
quando chamamos o seu nome; tem balbuciado alguns sons com maior frequência;
acompanha desenhos e outros programas na televisão; ri em situações
específicas; desenvolve afeto especial por alguns brinquedos e começa a fazer
“escolhas” quando oferecemos mais de uma opção. Dentro dos seus próprios
limites, o Antonio raramente demonstra preguiça ou malcriação nas suas
atitudes. Ao contrário, sentimos que ele se esforça. E que aos poucos está
despertando para o mundo à sua volta. Com muita frequência nos impressiona com
alguma nova atitude. Com mais frequência ainda, faz algo engraçado.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Ou seja, a culpa é minha, pois mesmo sabendo que
não posso consertar o problema do meu filho, insisto em me encher de
expectativas. Repito “papai” de um jeito irritante para o Antonio, tentando enfiar
ouvido adentro uma informação que talvez o cérebro dele esteja verde demais
para interpretar. Procuro identificar padrões em todos os comportamentos dele,
para apenas poder batizá-los de aprendizado, de habilidade conquistada. E
desejo, incontrolavelmente, que o Antonio acompanhe um pouco mais o tempo, este
apressado, este maldito, que insiste em deixar para trás não só a minha alma,
mas agora também o melhor fruto dela, que é o meu filho.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">De vez em quando vejo alguém dizer que as
crianças de hoje em dia são muito espertas, que já nascem sabendo mexer em
computador e passar os dedos nas telas <i>touch
screen</i>. Adoraria engrossar o coro, mas não posso. Meu filho não nasceu
esperto. E só agora começa a entender a utilidade das próprias mãos. Acho que
minha constituição antiquada não passou para ele informações suficientes. Acho
que respirei ácaros demais nas minhas bibliotecas imaginárias e prejudiquei a
herança genética dos meus filhos. Agora sério: acho que minha mulher e eu
desconfiaremos pelo resto das nossas vidas se fomos culpados pelo o que
aconteceu ao Antonio.</span></span></span></div>
<div class="ecxmsonormal">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Os exames realizados até agora indicam que não.
A medicina acredita que não, que poderia ter acontecido a qualquer casal. Ainda
assim, quando vejo meu filho lutar para fazer o que deveria ser instintivo, preciso
admitir que muitas vezes me questiono. <i>“Se
a Ana tivesse engravidado no dia seguinte, teria sido diferente?”</i> E a culpa
volta, porque pensar desta maneira não leva a lugar nenhum. Certo de estar
errado, fico esperando a culpa passar.</span></span></span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com32tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-55930796586443174792012-10-01T16:30:00.002-03:002012-10-04T11:17:02.251-03:00AvisoPor desorganização do autor e por conta de muito trabalho, o post desta semana sairá até sexta. Desculpe o atraso.Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-87804924118631686792012-09-24T19:51:00.003-03:002012-10-10T14:15:51.744-03:00Amor na Pangeia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
mso-font-charset:78;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
mso-font-charset:78;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style> <a href="http://1.bp.blogspot.com/-zAiwe7rCWj8/UGDj3t85DgI/AAAAAAAAAv0/7yZJx6Z7l_I/s1600/Pablo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-zAiwe7rCWj8/UGDj3t85DgI/AAAAAAAAAv0/7yZJx6Z7l_I/s320/Pablo.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Até que se prove o contrário, vigora a teoria de que,
há 200 milhões de anos, ou 540 milhões, não se tem certeza, os continentes eram
um bloco de terra chamado Pangeia. Não que alguém de fato a chamasse assim,
visto que o primeiro ancestral do homem àquele tempo ainda nem pensava em ser
uma ideia possível, muito menos em existir. Porém, é justo pressupor que algum
tipo de vida havia, e que este ser vivo – ao qual, por questões práticas, chamaremos
de Pablo –, assim como qualquer outro ser biologicamente ativo, só pensava em
comer, fosse para logo em seguida se atirar na rede com um palito de dentes no
canto da boca, fosse no sentido, digamos assim, menos literal: o de se
reproduzir.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Pablo era um desses primeiros lagartos de tamanho
modesto e pernas finas que perambulavam Pangeia adentro afoitos por comida e
fêmeas. Não tinha lá grandes ambições além das que envolviam a própria
sobrevivência e a continuação da espécie. Seu cérebro pouco avantajado nunca
seria capaz de imaginar, nem mesmo no seu ponto mais alto de falsa modéstia,
que seus hectanetos, meros milhões de anos depois, teriam as dimensões e a
imponência de prédios de três ou quatro andares, e que seriam tão respeitados,
tão admirados, tão temidos, que entrariam para a história com um nome bastante fidedigno
ao seu <i>status quo</i> na sociedade
cretácea – os tiranossauros.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Pois bem. Fazia uma linda tarde de sol sem previsões
de erupções vulcânicas nas areias de Ipanema, praia que ainda não existia e
que, por estar localizada bem ao centro da Pangeia, assemelhava-se mais ao
interior do Mato Grosso do que ao atual Rio de Janeiro, quando Pablo avistou
Maria Cristina pela primeira vez. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Maria Cristina, para os que ainda não deduziram, era
uma réptil mais ou menos idêntica a Pablo, com as únicas diferenças de que era
capaz de botar ovos e tinha a decência de não arrotar após se fartar com as
entranhas de um inseto ou com outro quitute de igual teor gorduroso. Não era
exatamente uma mulher graciosa. Tinha os olhos um tanto esbugalhados e a pele
enrugada. Mas para Pablo pareceu uma visão de Afrodite, mesmo que ele não
tivesse a menor ideia do que uma deusa grega viria a ser, parecer ou
significar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">É verdade que Maria Cristina não sentiu os mesmos
arrepios de seu pretendente na ocasião do primeiro encontro. Porém, ela andava preocupada,
já não era mais mocinha, e as vizinhas, todas bem arranjadas, começavam a
comentar. Mais por desespero do que por desejo, achou oportuno soltar os
feromônios para aquele forasteiro magricela que, apesar de um tanto inseguro e zero
<i>sex appeal</i>, ao menos serviria para
acertar os ponteiros de seu relógio biológico, cujo alarme já berrava de
vontade de ver a casa cheia de lagartixas engatinhando de fraldas para lá e
para cá. Após uma desastrosa investida de Pablo, que se aproximara lambendo os
lábios e colocando as mãos onde não devia, Maria Cristina respirou fundo e,
determinada a desencalhar e calar a boca das amigas, aceitou reencontrá-lo
naquele mesmo lugar, dali a dez minutos, para o acasalamento.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">O sangue gelado de Pablo borbulhava de ansiedade. Não
somente por seu instinto de macho alfa – ou beta, ou gama... deixa pra lá
–, mas também porque seus amigos, um bando de zombadores, como todo grupo
de machos na natureza, faziam correr um burburinho pela Pangeia. Era só tomarem
uns copos a mais para soltarem, às gargalhadas, que as buscas de Pablo pelo pão
de todo dia e por namoradas até então só haviam sido bem sucedidas no primeiro
intento. Ninguém poderia afirmar, mas para todos os que o conheciam de perto,
Pablo ainda era virgem. Suspeita que ele ansiava avidamente por enterrar.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Mas a Pangeia era um continente irônico e, justo no
momento em que Pablo avistou Maria Cristina se aproximar do local combinado, completamente
nua e irresistível, as placas tectônicas da Terra resolveram discutir o relacionamento e
desfazer uma união que já durava muitos bilhões de anos. Foi um desespero só:
pedras rolavam montanha abaixo, árvores estratosféricas caíam feito fruta
madura, animais de todos os portes eram esmagados, o mundo inteiro se
chacoalhava. Com as vizinhas correndo desesperadas por cima de seu ninho de
amor, Maria Cristina não sabia se as acompanhava na fuga ou se procurava algo
para cobrir as partes íntimas. Pablo, atordoado com o caos repentino, não se
preocupou em esconder o membro em riste: tentava a todo custo encontrar um
jeito de se equilibrar naquela tremedeira e de chegar vivo a uma pequena
caverna logo em ali em frente, onde se protegia e se encolhia, em choque, a sua
amada.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">No instante em que Pablo tentava um salto maior do que
a sua fina e minúscula perna, uma fenda colossal se abriu no chão. Por pouco
ele não despencou pelo precipício recém criado, como infelizmente o fizeram milhares
de plantas e animais menos afortunados. Pendurado por apenas uma das mãos na
ponta da falésia, ainda ofegante pelo susto, Pablo assistiu às vizinhas de
Maria Cristina caírem no abismo, esperneando em vão no ar, até se tornarem um
ponto minúsculo nas trevas e depois desaparecerem, ao ultrapassarem o limite da
visão. Percebendo que a força em seus dedos se esvairia em pouco tempo, Pablo
fez um esforço imenso para se reerguer até a terra firme. Sôfrego, ainda
tentando recuperar o fôlego, não acreditou quando viu Maria Cristina na margem
oposta daqueles paredões que agora se distanciavam. A Pangeia estava se dividindo.
E eles não estavam do mesmo lado. Boquiabertos, sem tirar os olhos um do outro,
eles se despediam sem dizer uma palavra sequer. O mal estava feito. Sabiam que seus
destinos haviam mudado. Pablo viveria no Brasil, Maria Cristina em Angola. E eles
passariam o resto de seus dias separados por um oceano Atlântico que meia hora antes
não estava ali, mas que naquele instante já se impunha caudaloso, intransponível,
e que só bilhões de anos depois seria atravessado.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Aqui a história de Pablo poderia enveredar para um
parágrafo de lamúrias e sofrimento, porém desde os tempos da Pangeia as leis da
natureza são as mesmas: passado o impacto, contados os que sobraram, a vida
rapidamente toma rumo. Pablo se ajeitou com uma prima de segundo-grau de Maria
Cristina. Não era muito bonita, a pele ainda mais áspera que a da prima, mas
era boa moça e logo teve uma ninhada. Em poucos meses, aborrecido com a vida
pacata de casado, Pablo decidiu sair para comprar cigarros. Nunca voltou, não
se sabe ao certo se encontrou parceira melhor no caminho ou se foi engolido por
algum predador, sendo esta segunda possibilidade amplamente aceita como a mais
provável. Já Maria Cristina foi muito feliz com um tipo da Namíbia, bem mais
alto, mais belo e mais forte do que Pablo, e produziu descendentes da melhor
qualidade, hoje entre os fósseis mais valiosos do mercado.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Tudo isto nos leva a crer que o amor não passa de uma
conveniência geográfica. E que é muito estranho alguém acreditar que, entre
seis bilhões de seres humanos no mundo, exista uma alma gêmea morando
exatamente na mesma cidade, passeando pelo mesmo bairro, quem sabe viajando no
assento ao seu lado. Nos apaixonamos por quem escolhemos, onde buscamos e pelo
tempo que queremos. Não há razão para complicar o que é simples, a não ser que
se queira passar a vida esperando a pessoa certa aparecer ou, pior ainda, esperando
a pessoa certa voltar. A conclusão é polêmica e não tem base científica. Para o
leitor mais cuidadoso, é até fácil redarguir. Afinal, em rápida pesquisa
descobre-se que os tiranossauros nunca viveram no Brasil; portanto, não podem
ser hectanetos de Pablo. Se o autor se enganou em ponto tão contestável, talvez
ainda reste esperança a quem sonha em encontrar a pessoa ideal. A história, desde quando ainda era pré-história,
mostra que isto não existe, mas ainda assim não falta quem queira procurar.</span></span></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-64950128914466773272012-09-17T18:57:00.001-03:002012-10-04T11:17:07.501-03:00Queremos sangue<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Após tomar
um tapa na cara, a ruiva se levanta da cama e anda até o espelho do banheiro.
Ela tira um batom vermelho do bolso e abre um pouco os lábios para retocar a
maquiagem. Em silêncio absoluto, um homem surge na janela, com um fuzil nas
mãos. Antes que se possa raciocinar, um tiro estrondoso faz a cabeça da mulher
explodir, jorrando sangue e miolos na parede. Meu filho assiste a tudo de boca
aberta e olhos arregalados. Mal respira, tamanha a concentração. Um ano e sete
meses. Fã de filme de ação.</span></span></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">É claro que
nem minha mulher nem eu havíamos percebido que o Antonio tinha desistido de
brincar com o seu pinguim inflável – coisa que não é pouca, já que o pinguim é definitivamente
o seu melhor amigo, real e imaginário, ganhando em estima do pai, dos avós, da
babá e quiçá da mãe – para se compenetrar no filme impróprio para menores de 16
anos a que estávamos assistindo. Tentei virá-lo contra a tv. Em vão. Tentei tapar
os olhos dele nas cenas mais pesadas. Perda de tempo. Assim que eu olhava para
a tela, ele desviava para escapar do bloqueio. Pequeno sim, bobo não.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">O filme de
fato tinha um cardápio variado para quem gosta de violência. Não se limitava a
tiros à queima-roupa. Teve morte a garfadas, crânio esmagado com pisadas, pulso
cortado a navalha, faca na garganta, afogamento forçado e o clássico
capotamento colina abaixo após perseguição de carro. Teve até um romancezinho
sem sal para entreter as damas da casa – no caso, peça única: a Ana. Mas desta
vez quem se deu bem fomos nós, os homens, com nosso cérebro programado para
gostar de planos de vingança mirabolantes e atiradores que encaram máfias
inteiras sem sofrer um arranhão. Quem se deu bem fomos eu e o Antonio, que ainda
nas fraldas já demonstra gosto cinematográfico apurado. Agora tenho parceiro
para rever pela septuagésima vez a trilogia do Poderoso Chefão.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Sei que não
será fácil concorrer com o incrível pinguim inflável, um ágil joão-bobo, que ao
melhor estilo Rocky Balboa, encara sequências infinitas de golpes sem se deixar
abater e ainda se levanta de volta com um inabalável sorriso na cara. Tenho
consciência de que será difícil competir com os filmes da Galinha Pintadinha,
cuja trilha sonora figura há quinze meses no topo das paradas lá em casa. Mas
tenho Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme ao meu lado.
Tenho Steven Spielberg, James Cameron e até Woody Allen para me ajudarem. Não
sei se algum dia meu filho vai assistir a um filme de cabo a rabo. E não tenho
muitas esperanças de que um dia ele saia da infância ou seja capaz de entender uma
história completa. O fato é que não vejo a hora de levar o Antonio ao cinema.
Afinal, ser pai é um pouco disso: mostrar o quanto o mundo pode ser divertido. E
se for preciso ketchup voando para que o meu filho se divirta, é ketchup voando
que iremos ver.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-emn8ODM9E_k/UFebzkxTw6I/AAAAAAAAAvA/bxMyYdUy3R4/s1600/sangue.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="299" src="http://3.bp.blogspot.com/-emn8ODM9E_k/UFebzkxTw6I/AAAAAAAAAvA/bxMyYdUy3R4/s320/sangue.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-9501647040796026682012-09-10T21:22:00.001-03:002012-09-11T12:21:16.052-03:00Sem resposta<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Neste final
de semana fizemos programa de homem, meu filho. Fomos juntos levar o carro à
oficina. Eu meio com preguiça, você muito bem disposto. Nunca vi gostar tanto
de sair de casa. “Nasceu com formiga na bunda”, costumo dizer.</span></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Calcei um
par de tênis em seus pés, apesar de você ainda não utilizá-los. Gosto de vê-lo
calçado. Digo que é para colocá-lo no chão quando as minhas costas e os meus
braços cansarem. Você de fato está inacreditavelmente pesado e carregá-lo no colo
não tem sido fácil, mas sei que os sapatos são na verdade uma maneira de
extravasar a minha ansiedade de vê-lo caminhar. É difícil explicar. É como se
fosse uma questão de honra. Como um aposentado, que mesmo sem nada para fazer, não
perde o hábito de vestir o terno. O sapato é um símbolo que ameniza a minha
frustração e traz um pouco de normalidade à nossa vida – na sua idade não se
anda mais de meias pela rua. Perdoe esta minha malograda encenação. Aceitar o
seu ritmo e não compará-lo a outras crianças tem sido uma verdadeira provação
para mim. Falho sempre, mas procuro não deixá-lo perceber.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">No caminho
para a oficina, revezava meus olhos entre o trânsito e a sua imagem no espelho
retrovisor. Como a maioria das crianças, você se acalma no carro. Dá algumas
gargalhadas sem motivo. Desconfiamos que seja o passar das árvores, mas não
podemos afirmar. Exceto o barulho de alguém tossindo ou imitando bichos, não há
um padrão do que é engraçado para você.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Enquanto
assistia a imagem da rua borrar, você mantinha os olhos perdidos ao longe, como
se estivesse pensativo, como se pensativo fosse algo possível para um bebê. Talvez
os olhos se explicassem menos pelo o que ocorria lá fora e mais pelo seu imenso
prazer em enfiar dois, três, quatro dedos na boca de uma só vez até engasgar.
Olhando de soslaio para o espelho, falei com firmeza: “Antonio, tira a mão da
boca.” Você me ignorou.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Sem poder
parar e tirar a sua mão por conta própria, decidi falar um pouco mais alto: “Antonio,
meu filho, tira a mão da boca.” Novamente, nenhum retorno.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Então optei por
algo que não costumo fazer: dei um grito. “Antonio! Tira a mão da boca!” Você
não piscou, não olhou para mim, não expressou absolutamente nada. Enfiou um
pouco mais a mão na boca, olhos voltados para lugar nenhum. Intrigado, ocupado
em dirigir o carro, fiquei na dúvida se você não foi capaz de me ouvir (ainda
não sabemos muito sobre a sua audição). Ou pior, se não foi capaz de interpretar
um tom de voz que até um cachorro captaria. Sua imobilidade mexeu comigo. O que
você entende, meu filho, quando falamos com você?</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">No dia
seguinte, obviamente sem resposta para a minha pergunta, seguimos com a nossa
rotina de fins de semana. É um cronograma bastante repetitivo, mas acreditamos
que isto o ajude a se manter saudável, a dormir melhor e a entender o que
acontece em sua volta. À noite, por exemplo, sempre tomamos banho a uma mesma hora e relaxamos
um pouco em frente à tv. Foi neste momento que você começou a chorar sem um
motivo visível.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">O seu
choro, Antonio, é a única forma consistente de comunicação que
até agora percebemos em você. Às vezes é manha, às vezes é incômodo, mas majoritariamente é
você tentando se fazer entender. No choro deste domingo, entre lágrimas, babas e suspiros, você balbuciou “mama”, assim aleatoriamente, meio sem
querer. “Mama” pode ser mamãe, ou pode ser o “mamá”, que todas as noites,
naquela exata hora, você costuma tomar. O que será que você disse, meu filho?
Pediu a mamadeira? Chamou sua mãe? Ou será que são apenas meus ouvidos,
esperançosos, achando forma onde não tem?</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Por
enquanto, tudo é mistério. Tenho retribuições pelo seu olhar, pelo seu sorriso,
pelas suas mãos que me tocam quando aproximo meu rosto do seu. Ao mesmo tempo,
sinto que você nunca perceberia se eu desaparecesse. Você vai com estranhos do
mesmo jeito que vai com a família. Reconhece, mas não dá certeza. Tudo não
passa de suposições que fazemos a seu respeito.</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><span lang="PT-BR">Sei que sentimentos
não precisam de signos para existir. Qualquer pessoa sabe o que é amor muito
antes de conhecer a palavra que o descreve, muito antes de compreender o que “amor”
quer dizer. Perdoe o seu pai, meu filho, por desejar mais do que você pode dar.
Perdoe-me por eu deixar nascer dúvidas onde deveriam haver certezas, e por
pedir algum tipo de confirmação. </span></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Mas a <span lang="PT-BR">verdade é que o meu coração precisa saber: </span><span lang="PT-BR">você sente
alguma coisa quando eu digo que amo você?</span></span></span><br />
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com25tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-25074107681802564232012-09-04T00:28:00.001-03:002012-09-04T10:17:54.234-03:00Omelete<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if !mso]><img src="//img2.blogblog.com/img/video_object.png" style="background-color: #b2b2b2; " class="BLOGGER-object-element tr_noresize tr_placeholder" id="ieooui" data-original-id="ieooui" />
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-upsA-DUywOw/UEV1NE93_EI/AAAAAAAAAuo/TmzAyd2zP9I/s1600/omelete.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="http://2.bp.blogspot.com/-upsA-DUywOw/UEV1NE93_EI/AAAAAAAAAuo/TmzAyd2zP9I/s400/omelete.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você tem outro?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Hum?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você me ouviu muito bem, Carolina. Responde.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− ...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Responde!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não responde ou não tem outro?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não tenho outro, Victor. Não te-nho ou-tro. Entendeu ou
quer que eu desenhe?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Então por que demorou tanto pra responder?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ah, sei lá, Victor. Que papo chato. Eu aqui, toda disposta
fazendo comida pra gente e você aí falando besteira. Eu vou colocar um presunto
picadinho na minha omelete. Você vai querer?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não, mas não foge do assunto, Carolina. Por que demorou
pra responder?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Porque você está sendo um grosso, Victor. Porque fica
sugerindo que eu sou uma vagabunda oferecida. Olha, Victor, eu vou dizer uma
coisa pra você. Se eu quisesse botar um par de chifres nessa sua cabeça, eu já
tinha botado há muito tempo. Porque você sai pra beber com o Dedéu, vai pra não
sei onde, volta sei lá que horas da madrugada e eu nunca faço uma pergunta
sequer. Não dou um pio. Fico na minha, só na confiança. E agora você me vem com
esse nhe-nhe-nhém de "você tem outro"? Ah não, meu bem, aqui não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− A Júlia esteve aqui ontem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ah, é? De novo? Veio pedir a furadeira pela vigésima vez?
Que fofinha... O que você fez? Deu uma furada nela? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Depois eu que sou o grosso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ah, tenha santa paciência, Victor. Essa piranha bate aqui
o que... três vezes por semana? Queria ver o que você faria se eu ficasse
pedindo pro vizinho me ajudar a pendurar quadro, a ver o vazamento do teto,
blá, blá, blá. Isso é tudo desculpa pra falar com você, Victor. Você sabe
disso. E o pior: você a-do-ra isso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− De que vizinho você está falando?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− De vizinho nenhum, Victor. Meu Deus do céu! É uma situação
hipotética! Eu estou dizendo que se fosse eu que batesse na porta dos outros,
se fosse eu no lugar dela, você estaria todo desconfiado. Agora me diz: que
história ela inventou pra vir aqui dessa vez?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ela estava com um problema.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ah, mas é claro. Porque além de policial militar, você é
um excelente psicólogo, né, Victor? Ai, que ódio daquela vaca.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você está chorando?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Foi a cebola.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não bota cebola na minha omelete, por favor. Você sabe que
eu não gosto de cebola.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− E você sabe que eu não gosto daquela vagabunda!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− E do namorado dela, Carolina? Você gosta do namorado da
vagabunda?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Do que você está falando?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− É, Carolina, para sua surpresa, a Júlia tem namorado. Quer
dizer, tinha. E para sua informação, ela nunca veio aqui pedir furadeira. Ela
contratou uma investigação secreta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Investigação?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Sim, Carolina. A Júlia desconfiou que estava sendo traída.
E como eu mesmo pude constatar, ela estava certa. O filho da mãe tinha outra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− E daí? O mundo está cheio de gente traída. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− É mesmo, Carolina?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− É, Victor. E quer saber? Eu estou de saco cheio dessa
conversa. Não quero saber da Júlia, nem do namorado dela, nem da outra namorada
dele. Toma aqui a sua omelete. Perdi o apetite. Eu vou tomar um banho. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você não quer saber o que aconteceu com o namorado da
Júlia, Carolina?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não, mas pelo jeito você quer contar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Me passa a faca.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Já está aí.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Essa não. Aquela ali, de cortar carne.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Pra que?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Me passa a faca, Carolina.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ai, minha Santa Terezinha, toma essa droga dessa faca. E
diz logo o que você quer dizer, pois eu quero tomar banho e dormir. Amanhã eu
tenho que acordar cedo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Obrigado. Bem, como eu estava dizendo, a Júlia tinha um
namorado. E eu disse <i>tinha</i> porque infelizmente
ele foi achado morto hoje cedo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Morto?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Esfaqueado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Que bizarro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− É. Bizarro. E sabe o que é mais bizarro, Carolina? O cara
estava traindo a Júlia com a namorada de um cara lá do quartel.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Eu conheço?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Conhece.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Quem? Aquela loira que estava com o Dedéu?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Quem então? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Pensa, Carolina.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Ai, Victor. Sei lá. Diz logo. Eu não lembro das namoradas
dos seus colegas. Só vi algumas naquele churrasco horroroso que você me obrigou
a ir. É aquela baixinha, daquele gordo?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Desisto, então. Se quiser contar, conta logo, Victor.
Sério. Eu estou cansada e tenho que acordar cedo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Eu descobri que o chifrudo do quartel, Carolina, não é o
Dedéu. Também não é aquele gordo que, por acaso, se chama Antenor. Eu descobri
que o corno do quartel, Carolina... sou eu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− ...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Que foi? Está surpresa?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− ...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Fala alguma coisa, Carolina. Ou vai negar que você está se
pegando há três meses com um advogado mauricinho filho de uma puta de esquina? Três
meses, Carolina! Eu dando duro pra sustentar essa casa e você dando tudo o que
é buraco praquele viado de terno, gravata e gel no cabelo. Você disse muito bem,
Carolina. Se você quisesse botar um par de chifres na minha cabeça dura, já
tinha feito há muito tempo. E não só o fez, como decidiu repetir o feito vinte
e três vezes. Sabia que você deu vinte e três vezes praquele palhaço, sua
piranha? Vinte e três vezes. Eu contei. E ainda vinha se roçar em mim à noite.
Que apetite, hein, Carolina. Impressionante. Agora está aí, toda murcha. Nem
parece a piranha que ontem mesmo estava pulando pelada em cima do amante. Diz
alguma coisa, vagabunda. Você não tem nada a dizer?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− O Joaquim morreu?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não, Carolina. Tomou dez facadas e foi dançar balé. É
claro que morreu, sua ignorante. Morreu de morte matada. Eu mesmo fiz o serviço.
Com essa faca aqui.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você matou o Joaquim?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Que isso? Vou ter que ficar repetindo? Além de piranha,
ficou surda?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você é um monstro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Sou mesmo. Com vinte e três chifres na cabeça, anjo é que
eu não ia parecer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Você devia estar na cadeia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− E você devia estar num canil, sua cachorra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Eu vou embora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não vai, não. Você vai ficar. Ainda mais agora que eu
mudei de ideia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Que ideia?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Sobre a omelete.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Não entendi.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Eu vou querer presunto. Bem picadinho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− Victor, por favor, larga essa fac</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">− abão em
pó Limpi, apenas cinco e sessenta e nove. Azeite de oliva La Siesta, dez e oitenta e
nove. Farinha de trigo Soleil, dois e cinquenta e nove. Só na terça da economia
Hiper Max. <i>É mais barato pra você, é mais
barato no Hiper Max.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">*</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Novo brinquedo do Antonio: <b>controle remoto.</b></span><br />
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-89313918347375749942012-08-27T23:58:00.004-03:002012-09-03T15:10:23.106-03:00Quatro desculpas<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:10.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ansi-language:#0400;
mso-fareast-language:#0400;
mso-bidi-language:#0400;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">No último dia 18 de agosto,
a Rede Globo fez o seu tradicional espetáculo anual do projeto Criança
Esperança, com Didi Mocó vestido de astronauta, com a Xuxa vestida de princesa,
com artistas famosos e quase famosos atendendo telefones, e com aquelas apresentações
de músicas de gosto duvidoso, mas que todo mundo gosta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">No dia seguinte, domingo, 19
de agosto, a Organização das Nações Unidas promoveu um grande evento para o Dia
Mundial Humanitário, com direito a música tema gravada pela cantora Beyoncé,
com apresentação ao vivo na sala da Assembléia Geral e com uma envolvente
campanha publicitária chamada<i> <a href="http://whd-iwashere.org/">I was here</a></i>
(Eu estive aqui), que convocava cidadãos do mundo inteiro para fazer algo de
bom por outra pessoa e, por esta razão, deixar sua marca na Terra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Cinco dias depois, no
sábado, 25 de agosto, a rede de restaurantes McDonald’s, por meio do seu
Instituto Ronald McDonald, também realizou o seu habitual McDia Feliz, em que o
valor arrecadado com a venda de Big Macs é integralmente revertido para instituições
de apoio e tratamento de crianças com câncer. Talvez seja uma tentativa de
amenizar a culpa intrínseca ao negócio de <i>fast-food</i>,
que junto com lucros inestimáveis, colhe também frutos podres de seu cardápio
de hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e pão com
gergelim – uma fórmula que praticamente nos empurra para dentro do caixão. Ainda
assim, mesmo que nutricionistas do mundo inteiro condenem, mesmo que seja
primordialmente uma ação de <i>marketing</i>,
realizar o McDia Feliz é sem dúvida uma atitude positiva de solidariedade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Para completar a lista de
eventos do bem ocorridos somente nos últimos dias, entre 21 e 28 de agosto é
celebrada a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla,
em que principalmente instituições ligadas ao tema, como a APAE, por exemplo,
promovem uma intensa programação de recreação e conscientização para os
próprios deficientes, para seus familiares e para a sociedade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">*</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Segundo lista publicada pela
revista americana Forbes no fim de 2011, as dez profissões mais felizes são:<br /><br />
1. Clérigos (padres ou pastores)
</span><span style="font-size: small;"><br />
2. Bombeiros<br />
3. Fisioterapeutas<br />
4. Escritores <br />
5. Professores de educação especial <br />
6. Professores<br />
7. Artistas<br />
8. Psicólogos<br />
9. Vendedores de serviços financeiros<br />
10. Operários ou “engenheiros de operação”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Segundo a mesma revista, as dez
profissões mais infelizes são:<br /><br />
1. Diretor de tecnologia da informação
</span><span style="font-size: small;"><br />
2. Diretor de vendas e marketing <br />
3. Gerente de produtos <br />
4. Desenvolvedor de web sênior <br />
5. Especialista técnico <br />
6. Técnico em eletrônica <br />
7. Assistente judicial <br />
8. Analista técnico de suporte <br />
9. Operador de CNC (Controle Numérico Computadorizado)<br />
10. Gerente de marketing</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Chamou a minha atenção que,
entre as profissões felizes, nove são geralmente mal remuneradas (segundo a
pesquisa, os vendedores de serviços financeiros que se dizem felizes justificam
sua alegria pela enorme quantia de dinheiro que ganham) e seis envolvem uma
mesma ação: ajudar os outros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Fica evidente também que as
profissões infelizes podem até pagar bem, mas têm sua rentabilidade anulada
pela enorme carga de estresse no dia-a-dia e pela falta de significado
emocional da sua carreira. Não há recompensa para a alma. Não há sentimento de
utilidade. São técnicos, especialistas, diretores de tecnologia. Trabalhos que
exigem muito da cabeça, mas ignoram o coração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">*</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">A maioria de nós, eu
inclusive, geralmente foge de trabalhos voluntários não por falta de
vontade, mas pelo atropelo das tarefas cotidianas. Falta tempo. E quando
arranjamos algum, nos sentimos no direito de dormir até mais tarde, dar uma corrida
no parque, tomar um chope com os amigos. Afinal, somos adultos, pagamos nossos
impostos e temos direito de ser felizes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Por que então que, mesmo
quando tudo está bem, mesmo quando temos emprego, saúde, família e tempo para
descansar, parece que algo está faltando? Por que será que mesmo com tudo nas mãos,
às vezes bate uma tristeza e alguns de nós entram em depressão?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Tenho certeza de que a lista
da Forbes não tem fundamento científico, mas traduz um sentimento que qualquer
pessoa tem por intuição. Dinheiro traz felicidade sim, mas até certo ponto.
Chega uma hora que a alma pede algo a mais. E este algo a mais são coisas muito
simples, como “sentir-se útil para alguém”, “sentir-se satisfeito consigo mesmo”
e sentir por dentro uma das maiores fontes de realização pessoal: ter orgulho
do seu dia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Como comentei no início do
texto, somente nesta semana o mundo ofereceu quatro desculpas para fazermos
algo de útil e termos orgulho do nosso dia. A vida ofereceu quatro
oportunidades de nos sentirmos um pouco mais felizes, independentemente da falta
de tempo ou da nossa profissão. Eu garanti um pouco desse sentimento pra mim. Fica
a sugestão.</span><br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-aM2NHdhd67U/UDw1ZXKLwfI/AAAAAAAAAuQ/c5H6N36L8jg/s1600/whd_pin.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-aM2NHdhd67U/UDw1ZXKLwfI/AAAAAAAAAuQ/c5H6N36L8jg/s320/whd_pin.png" width="195" /></a></div>
</div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-2215578906239772525.post-47097122348822896292012-08-20T23:53:00.003-03:002012-09-03T15:10:09.526-03:00Homem de sorte<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Na semana passada uma pessoa
de Brasília ganhou na megasena. Pegou uma caneta, rabiscou o 3, o 19, o 22, o
24, o 35 e o 49 na lotérica Corujinha, no Lago Sul, bairro onde cresci, e, dias
depois, estava milionário. Ou milionária. Tanto faz. Sacou um prêmio de 14 milhões
de reais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">No dia seguinte ao sorteio,
lá estava a tradicional fila de supersticiosos na casa lotérica em que foi
feita a aposta, tentando reencontrar as coordenadas da fortuna, desejando apostar
no mesmo guichê que o vencedor, respirar o mesmo ar, quem sabe até ser atendido
pela mesma funcionária. Quando existe chance de ganhar dinheiro, qualquer resto
de sorte é bem-vindo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Porém, já dizia o filósofo Heráclito,
“ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois nem o rio nem o homem são mais
os mesmos.” Pense. Até mesmo se o próprio vencedor fosse ao mesmo lugar, na
mesma hora, e reproduzisse todos os seus gestos de antes, suas chances de
repetir a façanha em nada aumentariam. Ao contrário. Pela lógica, se ele
remarcasse os exatos números apostados na rodada anterior, apesar de ter a
mesma probabilidade de acerto do que qualquer outra combinação, é aceitável
dizer que ganhar novamente seria algo absolutamente inesperado. Nem o mais
inocente dos supersticiosos acreditaria que não haveria nada de errado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Superstição nada mais é do
que um anabolizante da esperança. Quanto mais específica e difícil, mais a
macumba vai fazendo nossa esperança inflar, até que ela tome forma e tamanho
completamente desproporcionais. Ao se olhar no espelho, a esperança flexiona os
braços inchados, orgulhosa, acreditando ser mais forte do que realmente é. O
cérebro, encantado com aqueles músculos artificiais, deixa de olhar a esperança
como ela é – um simples desejo – e passa a considerá-la um destino traçado. O
que antes era apenas uma possibilidade repentinamente ganha <i>status</i> de certeza infalível. Cego para
os fatos reais, surdo para as estatísticas, o cérebro chega a criar um sexto
sentido, na tentativa de justificar o fato de estar completamente convencido
de que “desta vez vai dar certo”. É só não lavar a roupa, é só refazer os passos, é
só sentar no mesmo lugar. O gol vai sair, o número vai ser sorteado, o filho
vai passar no vestibular.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Para mim, sorte está na mesma gaveta
que a fé, que o amor e que a maldade: existe, mas ninguém no mundo é capaz de
explicar. O interessante é que o próprio Heráclito chegou perto de algum tipo
de entendimento quando diz que “o mundo é um fluxo permanente em que nada
permanece idêntico a si mesmo. Tudo se transforma no seu contrário.” Em
palavras simples, só é possível a existência - e entendimento - de algo porque antes havia o seu oposto.
Ou seja, só existe a noção de sorte quando, antes, estávamos imersos em algum
tipo de azar. E assim como o dia vira noite, o molhado vira seco, o escuro fica
claro, é natural pensar que o azarado logo terá seus dias de glória. E que os
sortudos mais cedo ou mais tarde também viverão sua amarga dose de azar.
(Curiosamente, logo após sair a notícia sobre o vencedor brasiliense e sua
fortuna de 14 milhões, outra matéria dizia que muitos sorteados da loteria
voltam a ficar pobres em poucos anos.)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Na dúvida, continuo
investindo alguns reais ao mês na megasena. Vario os números e as lotéricas,
uma pequena superstição pra turbinar minhas esperanças. Meu sexto sentido
acredita que, se a sorte não souber onde eu estou apostando, tenho mais chances
de pegá-la desprevenida em algum lugar. Porém, para não nutrir expectativas vãs,
resolvi fazer alguns cálculos sobre as minhas chances de sair vencedor em sorteios
improváveis. E para isso, utilizei, é claro, o maior prêmio que já ganhei em
minha vida: o nascimento do meu filho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O Antonio, todos sabem,
nasceu sem um pedacinho no cromossomo 6. No mundo inteiro, até agora, foram
diagnosticadas 210 pessoas com problemas no cromossomo 6. Considerando que o
mundo tem 7 bilhões de habitantes, a chance de ter um filho com este problema é
de aproximadamente 1 em 30 milhões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Porém, se considerarmos
apenas os que têm uma deleção similar à do Antonio, foram diagnosticados apenas
12 até agora. Isto significa 1 chance em 580 milhões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Indo mais a fundo, se
considerarmos todos os indivíduos diagnosticados com exatamente a mesma deleção
do Antonio, chegamos à impressionante marca de 0. Ninguém. Nenhuma alma sequer.
Nadica de nada. O Antonio é um caso número 1. O que diminui a probabilidade de
ter um filho como ele ao máximo possível: 1 chance em 7 bilhões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Considerando que a chance de
ganhar na megasena é de 1 em 50 milhões, cheguei à conclusão óbvia de que não preciso de superstição.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Eu já ganhei na megasena.
Exatamente 140 vezes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-h3jfLLi5aU4/UDL4JmlXWDI/AAAAAAAAAt4/o1SJf-3nOQo/s1600/foto.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-h3jfLLi5aU4/UDL4JmlXWDI/AAAAAAAAAt4/o1SJf-3nOQo/s320/foto.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
Flizamhttp://www.blogger.com/profile/10717137512445763883noreply@blogger.com32