terça-feira, 23 de julho de 2013

Índice de felicidade


Deu no Estadão, em 26 de junho de 2013:

Um centro de estudos chamado Fundação Nova Economia, sediado em Londres, em parceria com uma organização ecologista chamada Amigos da Terra, criaram o Índice Planeta Feliz, calculado com base na sensação de bem-estar e na expectativa de vida dos cidadãos, além da eficiência ecológica do país.

Para minha surpresa, essa foi a lista dos 10 países mais felizes.

1º: Costa Rica
2º: Vietnã
3º: Colômbia
4º: Belize
5º: El Salvador
6º: Jamaica
7º: Panamá
8º: Nicarágua
9º: Venezuela
10º: Guatemala 

O Brasil aparece na 21ª posição entre 151 nações. Países desenvolvidos também não foram muito bem. O Reino Unido está 41º lugar, seguido por Japão (45º), Alemanha (46º), França (50º), Itália (51º), Canadá (65º), Estados Unidos (105º) e Rússia (122º).

* * *

Conclusões. Para ser feliz, é preciso: 

a) morar numa praia com água azul safira; 

Ou verde esmeralda. Ou tão transparente que você vê o fundo do mar a metros de profundidade. O importante é ter água. Se possível, ardente. Com gelo e um enfeite de guarda-chuva colorido. 

b) não sentir frio; 

Chega de molhar os pulsos antes de entrar no mar. Chega de abrir o chuveiro e pular pra fora do box até a água esquentar. Ser feliz é andar de camisa aberta. É dormir com ventilador na cara. É achar natural usar estampa de hibiscos. É ver a temperatura cair pra 27º C e chamar de inverno. 

c) saber dançar ritmos caribenhos; 

Veja bem: supõe-se que mesmo com praia e sol, é difícil ser feliz na solidão. E já que 9 entre os 10 países mais felizes se situam na América Central, ou no norte da América do Sul, é possível que a sua alma gêmea se encontre suada e rodopiante numa pista de dança similar ao inferno de Dante. Vá treinando suas cantadas em espanhol. Reveja a abertura de Rainha da Sucata. Porque se este estudo estiver certo, o casal mais feliz do mundo deve se vestir, se comportar e se mover como Gloria Estefan e Sidney Magal. 

d) ter uma raquete de matar mosquitos; 

Calor e umidade são o Viagra dos insetos. É só chover que não sobra ovo sobre ovo. Lagoa vira ópera. Poste de luz vira rave. E a gente vira buffet, para pernilongo aperitivar. Antes de tentar ser feliz nas proximidades da linha do equador, vale treinar uns saques e voleios na quadra de tênis. Você vai precisar. 

e) desconfiar de índices sobre felicidade. 

Em uma rápida busca na internet, o primeiro resultado foi uma matéria sobre outro estudo, dessa vez realizado por pesquisadores da World Gallup, uma organização que tem a intenção de investigar pensamentos e comportamentos da população mundial por meio de amostras representativas.

Entre 2005 e 2009, eles fizeram um levantamento em 155 países a fim de medir dois tipos de bem-estar.

Primeiro, eles pediram aos voluntários para analisar sobre a satisfação geral com suas vidas. E em seguida, fizeram perguntas sobre como cada sujeito se sentiu no dia anterior.

Segue o resultado dos 10 países mais felizes.

1º: Dinamarca
2º: Finlândia
3º: Noruega
4º: Suécia
5º: Holanda
6º: Costa Rica
7º: Nova Zelândia
8º: Canadá
9º: Israel
10º: Suíça

O Brasil aparece em 12º. E exceto a Costa Rica (destino que eu e você devemos considerar seriamente para as próximas férias), nenhum dos países da lista anterior apareceu nesta segunda. Isso somente comprova que felicidade é algo imensurável, incomparável e baseado em infinitas variáveis, todas sensíveis a fatores externos, como desastres naturais ou situação econômica. Tentar estabelecer uma métrica, seja financeira, seja psicológica, não passa de um embaralhamento de informações com resultados aleatórios. Tão confiáveis quanto uma carta de tarô ou uma bolinha na roleta.

Este é um daqueles casos em que compreender a situação macro é bem simples do que analisar um cenário micro. Se entendemos com facilidade que qualquer comparação entre a felicidade dos suecos e a dos guatemaltecas é mera questão de focar em um ou outro aspecto, por que temos tanta dificuldade – e por que damos tanto crédito – quando comparamos a nossa própria felicidade com a de pessoas que estão ao nosso redor? Passamos a vida nos equiparando uns aos outros e repetidamente nos sentimos frustrados, por maiores que sejam as nossas próprias conquistas. Por que não conseguimos compreender que é impossível ter o máximo em tudo? Por que não nos satisfazemos simplesmente com o que temos ou realizamos?

Também sofro desse mal. E não tenho a resposta para essas perguntas. Porém acredito que são mais felizes as pessoas que sabem definir o que amam. E sempre que conheço alguém interessante, dou um jeito de descobrir alguns dados nesse sentido. Tenho uma curiosidade especial pela comida que cada um mais gosta. Porém, em vez de perguntar “qual a sua comida preferida?”, geralmente lanço uma questão maior: qual seria a sua última refeição, se você pudesse escolher? Se tivesse no corredor da morte, o que pediria para servirem a você?

É interessante ver como essa mudança de perspectiva – a proximidade da morte e o tempero da “última vez” – faz as pessoas demorarem um pouco mais para responder. É mais interessante ainda ver que raramente as refeições escolhidas são pratos sofisticados ou inacessíveis. São receitas simples, que não precisamos estar na Dinamarca, nem na Costa Rica para comer.

Meu prato no corredor da morte – pode mudar ao longo do tempo – atualmente seria estrogonofe de frango, arroz branco, batata palha, uma Coca-Cola, um chope, um pudim de leite, um pouco de ambrosia e um café espresso. E assim percebo que posso ser imensamente feliz no almoço de amanhã. Sem segredos, sem pesquisas, sem muito dinheiro. É questão de querer.

6 comentários:

  1. Eu acredito que é muito importante que façamos uma autoavaliação para que vejamos o que realmente nos faz feliz, como você mencionou da última refeição, Fábio, por exemplo. Para mim cozinhar é algo que me deixa extremamente feliz, ver as pessoas apreciando algo que fiz com tanto paixão me enche de felicidade e nem falo de pratos sofisticados, mas algo simples como uma torta de banana, que faço sempre que dá para o meu pai, porque sei que é a preferida dele. A minha felicidade está muito mais com quem eu compartilho que onde estou, se é caro ou não...

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  2. Fabio, uma das pessoas com quem tenho tido o prazer de trabalhar nessa nova fase é uma pessoa que em dos negócios que resolveu abrir, trabalha dando palestras e fazendo consultorias para as empresas para que as mesmas possam levar a felicidade para o ambiente profissional.

    Dentro desta perspectiva, ele esteve duas vezes no Butão, que por decreto do rei, deixou de medir o PIB e passou a medir o FIB, a Felicidade Interna Bruta, como forma de medir como o país está indo. O importante não é garantir um país somente rico, mas sim um país onde ao máximo sua população esteja feliz.

    Claro que os índices e métodos que o Butão usa para isso foram desenvolvidos por eles e para eles e provavelmente não estão isentos de falha, nem lá e nem se aplicado a nenhum outro país. Mas é uma conversa muito interessante entender como um país leva a medição da felicidade como sua principal ferramenta de governar.

    Tava com saudades dos textos já. Bjos e em breve estamos juntos

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    1. Me manda algum artigo ou lugar onde eu possa ler sobre esse FIB do Butão? Vc tem?

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  3. Oi filho !

    Que bom que voltaste. Teus textos são uma delícia para a alma.

    Àa vezes nem sei comentar, pois alguns nos deixam sem fala pela emoção e outros está tudo tão certo, que não tenho o que comentar. Como boa gaúcha, quero discordar...

    Sobre a felicidade, fiquei refletindo. Não há como ser feliz sempre.

    Os melhores momentos que tenho e tive são sempre solitários. Quer dizer, são sempre comigo mesma. Sentir felicidade pode ser uma surpresa inesperada também, como aquela sensação boa que você sente quando sai de casa, o dia está lindo, você com saúde, esperança e alegria.

    Tenho muitas, profundas alegrias, como o afeto familiar, por exemplo. O amor sincero, irrestrito.

    Quando penso nisto, sinto, comigo, felicidade.

    É isto !

    Beijocas.

    Mãe.

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